... E eu, entre a vida, que amo


L. do D.

... E eu, entre a vida, que amo com despeito, e a morte que temo com seducção. Tenho medo d'esse nada que pode ser outra coisa, e tenho medo d'elle simultaneamente como nada e outra coisa qualquer, como se nelle se pudessem reunir o nullo e o horrivel, como se no caixão me fechassem a respiração eterna de uma alma, corporea, como se alli triturassem de clausura o impessoal. A idéa de inferno, que só uma alma satanica poderia ter inventado, parece-me derivar-se de uma confusão d'esta maneira — ser a mixtura de dois medos differentes, que se contradizem e malignam.


Título: ... E eu, entre a vida, que amo
Heterónimo: Não atribuído
Número: 207
Página: 204
Data: 1929 (low)
Nota: [1-35r];