A alguém que uma vez me interrogou


A alguém que uma vez me interrogou sobre as minhas opiniões políticas, na pressuposição de que eu as tivesse, respondi "Sou monárquico absolutista", e depois acrescentei, com aquela simplicidade própria das ocasiões históricas, "é por isso que sou republicano".

À humanidade moderna repugna as fórmulas antidemocráticas. São parvuos? Sou o primeiro a concedê-lo; mas estes parvuos são a humanidade que temos, e é a humanidade que temos que é o facto, aquele facto de cujo "império incontestado" fala o nosso pobre Bourget, com a costumada aplicação às avessas daquilo que não sabe que está dizendo.


Título: A alguém que uma vez me interrogou
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 568
Página: 454
Nota: [28-4, dact.];
Nota: Apenas Teresa Sobral Cunha inclui este texto no corpus do "Livro do Desassossego".