E para ti, ó Morte


E para ti, ó Morte, vá a nossa alma e a nossa crença, a nossa esperança e a nossa saudação!

Senhora das Ultimas Cousas, Nome Carnal do Mysterio e do Abysmo — alenta e consola quem te busca, sem te ousar procurar!

Senhora da Consolação

Virgem-Mãe do Mundo absurdo, forma do Chaos incomprehendido, alastra e estende o teu reino sobre todas as cousas — sobre as flores que pressentem que murcham, sobre as feras que estremecem de velhas, sobre as almas que nasceram para te amar — entre o erro e a illusão da vida!

Lago ao luar dormindo entre rochedos, longe da lama e da polluição da Vida!

A vida, espiral do Nada, infinitamente anciosa por o que não pode haver.


Título: E para ti, ó Morte
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: II
Número: 336
Página: 76
Nota: [4-64, misto];