NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Minha alma é uma orquestra oculta


Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem, cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.

Todo o esforço é um crime porque todo o gesto é um sonho inerte.

As tuas mãos são pombas presas. Os teus lábios são rolas mudas (que aos meus olhos vêem arrulhar).

Todos os teus gestos são aves. És andorinha no abaixares-te, condor no olhares-me, águia nos teus êxtases de orgulhosa indiferente.

É toda ranger de asas, como dos (...), a lagoa de eu te ver.

Tu és toda alada, toda (...)

Chove, chove, chove...

Chove constantemente, gemedoramente, (...)

Meu corpo treme-me a alma de frio... Não um frio que há no espaço, mas um frio que há em eu ser o espaço...

Todo o prazer é um /vício/, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz.


Título: NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Minha alma é uma orquestra oculta
Heterónimo: Vicente Guedes
Número: 15
Página: 59
Nota: [4-68, ms.];Teresa Sobral Cunha edita este texto como parte da sequência de textos 'NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO' (2008: 54-61).;