Minha alma é uma orchestra occulta


Minha alma é uma orchestra
occulta; não sei que instrumentos
tange e range, cordas e harpas,
timbales e tambores, dentro
de mim. Só me conheço
como symphonia.

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Todo o esforço é um crime. porque
todo o gesto é um sonho morto.

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As tuas mãos são rolas pombas presas.
Os teus labios são rolas mudas.
(que os meus olhos vêem arrulhar).

Todos os teus gestos são aves. És
andorinha no abaixares-te, condôr
no olhares-me, aguia nos
teus extases de orgulhosa indifferente.
É toda ranger de azas, como dos
      , a lagoa de eu te vêr.

Tu és toda alada, toda      

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Chove, chove, chove...

Chove constantemente, gemedora-
mente,
     

Meu corpo treme-me a alma
de frio... Não um frio que ha
no espaço, mas um frio que ha
em eu ver ser a chuva... o espaço

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Todo o prazer é um — porque
buscar o prazer é o que todos fazem
na vida, e o unico vicio negro é
fazer o que toda a gente faz.


Identificação: bn-acpc-e-e3-4-1-87_0135_68_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (29.5cm X 11.1cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pen) : Testemunho manuscrito a tinta preta.
Data: 1913 (low)
Nota: , Texto escrito no verso de meia folha de um impresso de "Proposta para Hypotheca".
Fac-símiles: BNP/E3, 4-68r.1