Leve eu ao menos


L. do D. (continuação)

Leve eu ao menos, para o immenso possivel do abysmo de tudo, a gloria da minha desillusão como se fosse a de um grande sonho, o esplendor de não crer como um pendão de derrota — pendão contudo nas mãos debeis, mas pendão arrastrado entre a lama e o sangue dos fracos... mas erguido ao alto, ao sumirmo-nos nas areias movediças, ninguem sabe se como protesto, se como desafio, se como gesto de desespero... Ninguem sabe, porque ninguem sabe nada, e as areias engolfam os que teem pendões como os que não teem...

E as areias cobrem tudo, a minha vida, a minha prosa, a minha eternidade.

Levo comigo a consciencia da derrota como um pendão de vitória.


Título: Leve eu ao menos
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: II
Número: 337
Página: 77
Nota: [2-10, misto];