Meus sonhos


L. do D.

Meus sonhos: como me crio amigos no sonho, ando com elles. A sua imperfeição outra, ☐

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Ser puro, não para ser nobre, ou para ser forte, mas para ser si-proprio. Quem dá amôr, perde amôr.

Abdicar da vida para não abdicar de si-proprio.

A mulher — uma bôa fonte de sonhos. Nunca lhe toques.

Aprende a desligar as idéas de voluptuosidade e de prazer. Aprende a gosar em tudo, não o que elle é, mas as idéas e os sonhos que provoca. Porque nada é o que é, e os sonhos sempre são os sonhos. Para isso precisas não tocar em nada. Se tocares o teu sonho morrerá, o objecto tocado occupará a tua sensação.

Vêr e ouvir são as unica[s] cousas nobres que a vida contem. Os outros sentidos são plebeus e carnaes. A unica aristocracia é nunca tocar. Não se approximar — eis o que é fidalgo.


Título: Meus sonhos
Heterónimo: Não atribuído
Número: 11
Página: 20 - 21
Data: 1913 (low)
Nota: [9-4];