Minha alma é uma orquestra oculta


Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem, cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.

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Todo o esforço é um crime porque todo o gesto é um sonho morto.

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As tuas mãos são rolas presas. Os teus lábios são rolas mudas (que aos meus olhos vêem arrulhar).

Todos os teus gestos são aves. És andorinha no abaixares-te, condor no olhares-me, águia nos teus êxtases de orgulhosa indiferente. É toda ranger de asas, como dos ☐, a lagoa de eu te ver.

Tu és toda alada, toda ☐

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Chove, chove, chove...

Chove constantemente, gemedoramente, ☐

Meu corpo treme-me a alma de frio... Não um frio que há no espaço, mas um frio que há em ver a chuva...

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Todo o prazer é um vício, porque buscar o prazer é o que todos fazem na vida, e o único vício negro é fazer o que toda a gente faz.


Título: Minha alma é uma orquestra oculta
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 310
Página: 297
Nota: [4-68, ms.];