O sonho é a peor das drogas


O sonho é a peor das drogas, /porque é a mais natural de todas./ Assim se insinua nos habitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer, como um veneno dado, não doe, não descora, não abate — mas a alma que delle usa fica incuravel, porque não ha maneira de se separar do seu veneno, que é ella mesma.

Como um espectaculo na bruma ☐

Aprendi nos sonhos a coroar de imagens as frontes ☐ do quotidiano, a dizer o commum com estranheza; o simples com derivação; a dourar, com um sol de artificio, ☐ os recantos e os moveis mortos, e [a] dar musica, como para me emballar, quando as escrevo, ás phrases fluidas da minha fixação.


Título: O sonho é a peor das drogas
Heterónimo: Não atribuído
Número: 531
Página: 490
Nota: [15(1)-73];
Nota: Jerónimo Pizarro edita este texto em apêndice, integrado no conjunto "Textos sem destinação certa inventariados fora do núcleo" (2010: 490-516).