O sonho é a peor das drogas


O sonho é a peor das
cocainas drogas, [porque é a
mais natural de todas.]
Assim se insinua nos
habitos com a facilidade
que uma das outras
não tem, se prova sem
se querer, como um
veneno dado, não
doe, não descora,
não abate — mas a

alma que delle usa fica incuravel,
porque não ha maneira de se separar do seu

veneno, que é ella mesma.


Como um espectaculo
na bruma

Aprendi nos sonhos a
coroar de imagens as
frontes       do quotidiano,
a dizer o commum
com estranheza; o simples
com derivação; a dourar,
com um sol de artificio,
      os recantos e os

moveis mortos, e [a] dar
musica, como para
me emballar, quando as

escrevo, ás phrases fluidas
da minha fixação.


Identificação: bn-acpc-e-e3-15-1-1-104_0155_73_t24-C-R0150 | bn-acpc-e-e3-15-1-1-104_0156_73v_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (21.5cm X 14.1cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pencil) : Testemunho manuscrito a lápis.
Nota: , Texto escrito em recto e verso de uma folha inteira. Quando Pessoa chega ao limite inferior da página, a escrita segue em sentido contrário aos ponteiros do relógio. O testemunho (15(1)-73r - ms.) contém texto em tinta preta que faz referência à morada de uma editora inglesa e que Pizarro transcreve como Anexo ao texto 531 (2010: 1007).
Fac-símiles: BNP/E3, 15(1)-73.1 , BNP/E3, 15(1)-73.2