Edição do Arquivo LdoD - Usa (BNP/E3, 138A-41)

Criei para mim


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Criei para mim, fausto de
um opprobrio, uma pompa de dôr...
e de apagamento. Não fiz da minha
dor um poema, fiz d'ella, porém, um cortejo. E
da janella para mim contemplo, es-
pantado, os occasos roxos, os cre-
pusculos vagos de dores sem razão,
onde passam, nos
cerimoniaes do meu descaminho,
os pajens, as fardas, os palhaços
da minha incompetencia nativa para de
existir. A creança, que
nada matou em mim, assiste ainda, de
febre e fitas, ao circo que me
dou. Ri dos palhaços, sem haver cá fóra
do circo; põe nos habilidosos e nos
acrobatas olhos de quem vê alli toda
a vida. E assim, sem alegria, mas contente, entre as
quatro paredes do meu quarto dorme, por inercia, com o
seu pobre papel feio e gasto, toda a angustia insuspeita
de uma alma humana que transborda, todo o
desespero sem remedio de um coração a quem
Deus abandonou.


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Caminho, não pelas ruas, mas atravez da
minha dor. As casas alinhadas são as impossibilidades
que me cercam, na alma;        



os meus passos soam no passeio como um
dobre ridiculo a finados, um ruido
de espectro na noite, final como um
recibo ou uma jaula cova.

Separo-me de mim e vejo que sou um
fundo d'um poço.

Morreu quem eu nunca fui. Esqueceu a
Deus quem eu havia de ser. o interludio
vazio.

Se eu fosse musico escreveria a minha marcha
funebre, e com que razão a
escreveria!