CONSELHOS ÀS MAL-CASADAS | Proponho-me ensinar-lhes como trair


Proponho-me ensinar-lhes como trair o seu marido em imaginação.

Acreditem-me: só as criaturas ordinárias traem o marido realmente. O pudor é uma condição sine qua non de prazer sexual. O entregar-se a mais de um homem mata o pudor.

Concedo que a inferioridade feminina precisa de macho. Acho que, ao menos, se deve limitar a um macho só, fazendo dele, se disso precisar, centro de um círculo, de raio crescente, de machos imaginados.

A melhor ocasião para fazer isso é nos dias que antecedem os da menstruação.

Assim:

Imaginam o seu marido mais branco de corpo. Se imaginarem bem, senti-lo-ão mais branco sobre si.

Retenham todo o gesto de sensualidade excessiva. Beijem o marido que lhes estiver em cima do corpo, e mudem com a imaginação o homem num olhar. Olhem quem lhes estiver em cima da alma.

A essência do prazer é o desdobramento. Abram a porta da janela ao Felino em vós.

Como tracasser o marido.

Importa que o marido às vezes se zangue.

O essencial é começar a sentir a atracção pelas coisas que repugnam, não perdendo a disciplina exterior.

A maior indisciplina interior junta à máxima disciplina exterior compõem a perfeita sensualidade. Cada gesto que realiza um sonho ou um desejo, irrealiza-o realmente.

A substituição não é tão difícil como julgam. Chamo substituição à prática que consiste em imaginar o gozo com um homem A quando se está copulando com um homem B.


Título: CONSELHOS ÀS MAL-CASADAS | Proponho-me ensinar-lhes como trair
Heterónimo: Vicente Guedes
Número: 147
Página: 148 - 149
Nota: [5-8 e 8a, ms.];
Nota: Teresa Sobral Cunha integra este texto no grupo de textos "CONSELHOS ÀS MAL-CASADAS" (2008: 147-149).