ESTÉTICA DO DESALENTO [Publicar-se — socialização de si próprio]


ESTÉTICA DO DESALENTO

Publicar-se — socialização de si próprio. Que ignóbil necessidade! Mas ainda assim que afastada de um acto — o editor ganha, o tipógrafo produz. O mérito da incoerência ao menos.

Uma das preocupações maiores do homem, atingida a idade lúcida, é talhar-se, agente e pensante, à imagem e semelhança do seu ideal. Posto que nenhum ideal encarna tanto como o da inércia toda a lógica da nossa aristocracia de alma ante as ruidosidades e ☐ exteriores modernas, o Inerte, o Inactivo deve ser o nosso Ideal. Fútil? Talvez. Mas isso só preocupará como um mal aqueles para quem a futilidade é um atractivo.


Título: ESTÉTICA DO DESALENTO [Publicar-se — socialização de si próprio]
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 210
Página: 220
Nota: [15(2)-89, ms.];
Nota: Richard Zenith edita o fragmento 210 com o mesmo título do fragmento 307 da sua edição, com cota 5-80 (2012: 296).