ESTÉTICA DA ABDICAÇÃO | Tudo quanto é acção


Tudo quanto é acção, seja a guerra ou o raciocínio, é falso; e tudo quanto é abdicação é falso também.

Pudesse eu saber como não agir nem abdicar de agir! Seria essa a coroa-de-sonho da minha glória, o ceptro-de-silêncio da minha grandeza.

Eu nem sofro. O meu desdém por tudo é tão grande que me desdenho a mim próprio; que, como desprezo os sofrimentos alheios, desprezo também os meus, e assim esmago sob o meu desdém o meu próprio sofrimento.

/Ah/, mas assim sofro mais... Porque dar valor ao próprio sofrimento põe-lhe o ouro dum sol do orgulho. Sofrer muito pode dar a ilusão de ser o Eleito da Dor. Assim (...)


Título: ESTÉTICA DA ABDICAÇÃO | Tudo quanto é acção
Heterónimo: Vicente Guedes
Número: 117
Página: 122 - 123
Nota: [9-30, ms.];
Nota: Teresa Sobral Cunha integra este texto na sequência 'ESTÉTICA DA ABDICAÇÃO' (2008: 122-123).