Educar? Mas a educação


Educar? Mas a educação que
vantagem tem? Promove a feli-
cidade? A felicidade (a não
ser a euphoria dos
loucos, que é horrorosa) é o
sentimento da harmonia entre
as condições internas, e as externas,
da vida, de congruencia entre
o individuo e o meio
proximo ou social. A educação
dá essa congruencia? Não a
dando, dá, ao menos, o sentimento
illusorio d'ella, para o caso
da felicidade equivalente? Quem
o pretende?

Ou então a educação deve
ser posta de parte, porque não
conduz à felicidade; ou a


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felicidade do individuo não é um
fim; ou o fim, social. Mas o
liberal moderno affirma, por
egual, a necessidade da cultura geral,
e que a felicidade do individuo é
o fim a attingir (procurar) nas
sociedades. O liberal moderno
quer, portanto, duas cousas
incoexistiveis: quer comer o
bolo e ficar com elle.

Mas a cultura pode
ser tomada em outro sentido,
e como devendo ser dada
para outro fim — o fim de
dar mais larga apreciação da
vida, maior consciencia do
mundo.


Identificação: bn-acpc-e-e3-55i-1-100_0196_98-R0150 | bn-acpc-e-e3-55i-1-100_0197_98v-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (22.7cm X 17.1cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pencil) : Testemunho manuscrito a lápis.
Nota: , Texto escrito a lápis em recto e verso de uma folha inteira. Apenas Teresa Sobral Cunha inclui este texto no corpus do "Livro do Desassossego". Texto retirado do corpus na edição de 2013.
Fac-símiles: BNP/E3, 55I-98.1 , BNP/E3, 55I-98.2