Depois que o fim dos astros esbranqueceu



(escripto intervallarmente, e muito
para emendar)

L. do D.

Depois que o fim dos astros esbranqueceu para nada no céu matutino, e a brisa se tornou menos fria no amarelo mal alaranjado da luz sobre as poucas nuvens baixas, pude enfim, eu que não durmira, erguer lentamente o corpo exhausto de nada da cama de onde pensara o universo.

Cheguei á janella com os olhos quentes de não estarem fechados. Por sobre os telhados densos a luz fazia differenças de amarello pallido. Fiquei a contemplar tudo com a grande estupidez da falta de somno. Nos vultos erquidos das casas altas o amarello era aereo e nullo. Ao fundo do occidente, para onde eu estava virado o horizonte era já de um branco verde.

Sei que o dia vae ser para mim pesado como não perceber nada. Sei que tudo quanto hoje fizer vae participar, não do cansaço do somno que não tive, mas da insomnia que tive. Sei que vou viver um somnambulismo mais accentuado, mais epidermico, não só porque não dormi, mas porque não pude dormir.

Ha dias que são philosophias, que nos insinuam interpretações da vida, que são notas marginaes, cheias de grande critica, no livro do nosso destino universal. Este dia é um dos que sinto taes. Parece-me, absurdamente, que é com meus olhos pesados e meu cerebro nullo que, lapis absurdo, se vão traçando as lettras do commentario inutil e profundo.