Passo horas, às vezes,



Passo horas, às vezes, no Terreiro do Paço, à beira do rio, meditando em vão. A minha impaciencia constantemente me quer arrancar d'esse socego, e a minha inercia constantemente me detém nelle. Medito, então, em uma modorra de physico, que se parece com volupia apenas como o sussurro de vento lembra vozes, na eterna /insaciabilidade dos meus desejos vagos,/ na perene instabilidade das minhas ansias impossíveis. Soffro, principalmente, do mal de poder soffrer. Falta-me qualquer cousa que não desejo e soffro por isso não ser propriamente soffrer.

O caes, a tarde, a maresia entram todos, e entram junctos, na composição da minha angústia. As flautas dos pastores impossíveis não são mais suaves do que o não haver aqui flautas e isso lembrar-m'as.

Os idyllios longinquos, ao pé de riachos, doem-me esta hora analoga por dentro, (...)