Como nas horas em que a trovoada


L. do D.

Como nas horas em que a trovoada se prepara e os ruidos da rua fallam alto com uma voz separada.

A rua franziu-se de luz intensa e pallida e o negrume sujo tremeu, de leste a oeste do mundo, com um estrondo feito de escangalhamentos echoantes... A tristeza dura da chuva bruta peorou o ar negro de intensidade feia. Frio, morno, quente — tudo ao mesmo tempo — o ar em toda a parte era errado. E, a seguir, pela ampla sala uma cunha de luz metallica abriu brecha nos repousos dos corpos humanos, e, com o sobressalto gelado, um pedregrulho de som bateu em toda a parte, esfacelando-se num só grande silencio. O som da chuva diminui como uma voz de menos peso. Depois augmenta puro extase só. O ruido das ruas diminuiu angustiantemente. Nova luz, de um amarellado rapido, tolda o negrume surdo, mas houve agora uma respiração possivel antes que o punho do som tremulo echoasse subito d'outro ponto; como uma despedida zangada, a trovoada começava a aqui não estar.

☐ com um sussurro arrastado e findo, sem luz na luz que augmentava, o tremor da trovoada acalmava em largos longes — rodava em Almada — ☐

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Uma subita luz formidavel estilhaçou-se. Estoirou dentro dos cerebros e dos pensamentos. Tudo estacou. Os corações pararam um momento. Todos são pessoas muito sensiveis. O silencio aterra como se houvera morte. O som da chuva que augmenta allivia como lagrimas de tudo. Ha chumbo.


Título: Como nas horas em que a trovoada
Heterónimo: Não atribuído
Número: 275
Página: 272
Data: 1930 (low)
Nota: [1-48r];