OMAR


OMAR

Por que obscura magia é que esse persa longínquo manda tão diversamente sobre as nossas almas? Que potência de encantamento jaz viva na sepultura do seu tédio? Ah, é que, real ou facticiamente, nele, ou em Fitzgerald por ele, falou, melhor que em qualquer outro, a voz completa do tédio inteiro, não do tédio que está cansado de viver, mas do tédio que está cansado de ser. Cansado de ser, não como o Buda, que renega a vida porque é pouco, mas de outro modo — o de quem renega a vida porque é tudo.


Título: OMAR
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 616
Página: 502
Nota: [14C-42, dact.];
Nota: Apenas Teresa Sobral Cunha inclui este texto no corpus do "Livro do Desassossego".