Jacinto do Prado Coelho - edição anotada - Usa Jacinto do Prado Coelho(378)

A miseria da minha condição


A miseria da minha condição não é estorvada por estas palavras conjugadas, com que formo, pouco a pouco, o meu livro casual e meditado. Sobrevivo [?] nullo no fundo de toda a expressão, como um pó indissoluvel no fundo do copo de onde se bebeu só agua. Escrevo a minha litteratura como escrevo os meus lançamentos — com cuidado e indifferença. Ante o vasto ceu estrellado e o enygma de muitas almas, a noite do abysmo incognito e o choro de nada se comprehender — ante tudo isto o que escrevo no caixa auxiliar e o que escrevo neste papel da alma são coisas egualmente restrictas à Rua dos Douradores, muito pouco aos grandes espaços millionarios do universo.

Tudo isto é sonho e phantasmagoria, e pouco vale que o sonho seja lançamentos como prosa de bom porte. Que serve sonhar com princezas, mais que sonhar com a porta da entrada do escriptorio? Tudo o que sabemos é uma impressão nossa, e tudo o que somos é uma impressão alheia, melodrama [?] de nós, que, sentindo-nos, nos constituimos nossos proprios espectadores activos, nossos deuses por licença da [...]