Ler o Escrever - Usa LdoD-Arquivo(537)

Idéas metaphysicas do L. do D.


Idéas metaphysicas do L. do D.


Id[éas] met[aphysicas] do "Desconhecido"
    astrologia hermetica
Mas que hermetica causa dispoz que
as pedras calidas fizessem com que
se poupasse este MS? Esse mysterio,
nunca o resolverá ninguem.


Id[éas] met[aphysicas] do . (resembling Alf.'s poem)
─────

(I)
# A unica realidade para mim são as minhas sensações.
Eu sou uma sensação minha. Portanto
nem da minha propria existencia estou certo. Posso
estal-o apenas d'aquellas sensações a que eu
chamo minhas.

# A verdade? — É uma cousa exterior? Não posso
ter a certeza d'ella, porque não é uma
sensação minha, e eu só d'estas tenho a
certeza. Uma sensação minha? De quê?

Procurar o sonho é pois procurar
a verdade, visto que a unica
verdade para mim sou eu
proprio. Isolar-me tanto
quanto possivel dos outros
é respeitar a
verdade.


II.

Toda a metaphysica é a procura da verda-
de, entendendo por Verdade a verdade
absoluta. Ora a Verdade, seja ella o
que fôr, e admittindo que seja qualquér
cousa, se existe existe ou dentro
das minhas sensações, ou fóra d'el-
las ou tanto dentro como fóra
d'ellas. Se existe fóra das minhas
sensações, é uma cousa de que
eu nunca posso estar certo, não
existe para mim portanto; é,
para mim, não só o contrario
da Certeza, porque só das minhas sensações
estou certo, mas o contrario de sêr
porque a unica cousa que existe
para mim são as minhas sen-
sações. De modo que, a existir
fóra das minhas sensações, a Verdade
é para mim egual a Incerteza e
não-ser — não existe e não é a
verdade, portanto. Mas conce-
damos o absurdo de que as minhas sensações possam
ser o erro, e não-ser (o que é absurdo,
visto que ellas, com certeza, existem) —
n'esse caso a verdade é o ser e
existe fóra das minhas sensações totalmente.
Mas a idéa Verdade é uma idéa
minha; existe, porisso, dentro das minhas

sensações: portanto, no que Verdade absoluta e fóra de mim, a
verdade existe dentro de mim — contradicção, portanto; e erro,
consequentemente.


A outra hypothese é que a verdade existe dentro das minhas
sensações. N'esse caso ou é a soma d'ellas todas, ou
é uma d'ellas, ou parte d'ellas. Se é uma d'ellas,
em que se distingue das outras?
Se é uma sensação, não se distingue essencialmente das
outras; e, para que se distinguisse, era preciso que se
distinguisse, essencialmente. E se não é uma sensação, não é
uma sensação? — Se é parte das minhas sensações, que
parte?

As sensações teem 2 faces — a de serem sentidas
e a de serem dadas como cousas sentidas, a parte pela
qual são minhas e a parte pela qual são de "Cousas".
É uma d'estas partes, que a Verdade, a ser parte das minhas
sensações, tem de ser. ( Se é de qualquer modo um grupo de
sensações unificando-se ao constituir uma só sensação, cahe
sob a garra do raciocinio que liquida a hypothese anterior. )
Se é uma das duas faces — qual? A face "subjectiva"?
Ora essa face subjectiva apparece-me sob uma das 2 fórmas — ou a
da minha "individualidade" una ou de uma multipla
individualidade "minha". No 1º caso é uma sensação minha
como qualquér outra e já fica refutada no argumento
anterior. No 2º caso, essa verdade é multipla e
diversa, é verdades — o que é contraditorio com a ideia
de Verdade, valha ella o que valer. — Será então a face
objectiva? — O mesmo argumento se applica, porque
ou é uma unificação d'essas sensações n'uma idéa
de um mundo exterior — e essa idéa ou não é nada
ou é uma sensação minha, e se é uma sensação, já fica re-
futada essa hypothese; ou é de um multiplo
mundo exterior, e isso reduz-se a uma contradicção
entre pluralidade de verdades e a essencia da idéa de
Verdade. /

Resta analysar se a verdade é o conjuncto das
minhas sensações. Essas sensações ou são tomadas como uma


ou como muitas. No 1º caso voltamos á
já rejeitada hypothese. No 2º caso a
Verdade como idéa desapparece, porque se
consubstancia com a totalidade das
minhas sensações. Mas para ser a tota
lidade das minhas sensações, mesmo concebi-
das como minhas sensações, núamente,
a verdade fica dispersa — desapparece.
Porque, ou se baseia na idéa de totali-
dade, que é uma idéa (ou sensação) nossa,
ou não se apoia em parte nenhuma.
Mas nada prova, mesmo, a identidade
de verdade e totalidade. Portanto,
a verdade não existe.

Mas nós temos a idéa...

Temos, mas vemos que não corres-
ponde a "Realidade" nenhuma, suposto
que Realidade significa qualquér
cousa. A Verdade é portanto uma idea
ou sensação nossa, não sabemos de quê, sem
significação, proposito ou valôr, como

qualquér outra sensação nossa.

Ficamos portanto com as nossas sensações por unica "realidade",
entendendo que "realidade" não tem aqui sentido nenhum, mas é uma

convivencia para phrasear. De "real" temos
apenas as nossas sensações, mas "real" (que é
uma sensação nossa) não significa nada, nem
mesmo "significa" significa qualquer cousa, nem
sensação tem um sentido, nem "tem um
sentido" é cousa que tenha sentido algum.
Tudo é o mesmo mysterio. Reparo porém em
que nem tudo quer dizer cousa alguma, nem "mysterio"
é palavra que tenha significação.