Intervallo Doloroso
I. Doloroso
Como alguem cujos olhos, erguidos
de um longo de um livro,
receba a violencia para elles
de um mero claro sol
natural, se ergo ás vezes de
mim os meus olhos de ver-me
doe-me e arde-me fitar a
nitidez e independencia-de-mim
da vida ∧claramente externa, da existencia
dos outros, da posição e cor-
relação dos movimentos
no espaço. Tropeço nos sentimentos
reaes dos outros, o antagonismo
dos seus psychismos com o meu
entala-me e entaramela-
me os passos, escorrego e
destrambelho-me por entre e
por sobre o som das suas palavras
extranhas a ser ouvidas em mim,
o apoio forte e certo dos seus passos
no chão actual, os seus
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gestos que existem verdadeira-
mente, os seus varios ∧asperos e
complexos modos de serem outras
pessoas que não variantes da
minha.
Encontro-me então, n'estes ∧abysmos
em que me precipito ás vezes,
desamparado e ôco, parecendo que
morri e vivo, pallida sombra dolo-
rida, que a primeira briza deitará
por terra e ∧o ∧primeiro contacto
desfará em pó.
Pergunto então em mim-proprio se
valerá a pena todo o esforço que
puz em me isolar e elevar, se
o lento calvario que de mim fiz
para a minha Gloria Crucificada
valerá religiosamente a
pena? E, ainda que saiba que
valeu, pesa-me n'esse momento o
sentimento de que não valeu, de
que não valerá (nunca).