Não sei que diga


Não sei que diga. Pertenço à raça dos navegadores e dos criadores de impérios. Se falar como sou, não serei entendido, porque não tenho Portugueses que me escutem. Não falamos, eu e os que são meus compatriotas, uma linguagem comum. Calo. Falar seria não me compreenderem. Prefiro a incompreensão pelo silêncio.


Título: Não sei que diga
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 648
Página: 531
Nota: [28-66, ms.];
Nota: Apenas Teresa Sobral Cunha inclui este texto no corpus do "Livro do Desassossego". Texto retirado do corpus na edição de 2013.