AMORES COM A CHINESA DE UMA CHÁVENA DE PORCELANA | E os diálogos nos jardins fantásticos



E os diálogos nos jardins fantásticos que contornam nada definidamente certas chávenas? Que palavras sublimes não devem estar trocando as duas figuras que se assentam no lado de cá daquele bule? E eu sem ouvidos apropriados para as ouvir, morto na polícroma humanidade!

Deliciosa psicologia das coisas deveras estáticas! A eternidade tece-a e o gesto que uma figura pintada tem desdenha, do alto da sua eternidade visível, a nossa transitória febre, que nunca se fixa numa atitude nem se atarda nos portões de um gesto.

Que curioso deve ser o folclore do colorido povo dos painéis! Os amores das figuras bordadas  — amores de duas dimensões, duma castidade geométrica — devem ser ☐ para entretenimento dos psicólogos ousados.

Não amamos, senão que fingimos amar. O verdadeiro amor, o imortal e inútil, pertence àquelas figuras em que a mudança não entra, por sua natureza de estáticas. Desde que eu o conheço o japonês que se senta na convexa (...) do meu bule não mudou ainda... Não saboreou nunca as mãos da mulher que está a um distar errado dele. Um colorido extinto como de um sol despejado, entornado, irrealiza eternamente as vertentes desse monte. E tudo aquilo obedece a um instante de pena,   pena mais fiel do que esta que inutilmente lembra a fragilidade das minhas horas exaustas.

Quando se quebra uma chávena da minha colecção japonesa, eu sonho que mais do que um descuido das mãos de uma serva tenha sido a causa, ou tenham estado, os anseios das figuras que habitam as curvas daquele (...) de louça; a resolução tenebrosa de suicídio que as tomou não me causa espanto: serviram-se da criada, como um de nós de um revólver. Saber isto é estar além da ciência moderna e com que precisão eu sei isto!