Não crendo em nada com firmeza



Não crendo em nada com firmeza, e aceitando portanto como igualmente boas, em princípio de onde não passam, todas as opiniões; crendo somente que a teoria vale o que vale o teorista, e a emoção o que vale a expressão dela, não pude habituar-me àquele dogma literário que consiste em usar de uma personalidade. A personalidade é uma forma de crença, e, como a crença, é impossível ao raciocinador.

Não vai distância de crer na verdade externa ao de crer na interna, ao de aceitar como certo um conceito do mundo ao aceitar como certo um conceito de nós mesmos. Não afirmo que tudo seja flutuante, porque isso seria afirmar; mas tudo é de facto flutuante para o nosso entendimento, e a verdade, desdobrando-se-nos em verdades várias, desaparece porque a não pode haver múltipla.