Desejaria construir um codigo
L. do D.
Desejaria construir um codigo de inercia para os superiores nas sociedades modernas.
A sociedade governar-se-hia espontaneamente e a si-propria, se não contivesse gente de sensibilidade e de intelligencia. Acreditem que é a unica cousa que a prejudica. As sociedades primitivas tinham uma feliz existencia mais ou menos assim.
Pena é que a expulsão dos superiores da sociedade resultaria em elles morrerem, porque não sabem trabalhar. E talvez morressem de tedio, por não haver espaços de estupidez entre elles. Mas eu fallo do ponto de cura da felicidade humana.
Cada superior que se manifestasse na sociedade seria expulso para a Cidade dos superiores. Os superiores seriam alimentados, como animaes em jaula, pela sociedade normal.
Acreditem: se não houvesse gente intelligente que apontasse os varios mal-estares humanos, a humanidade não dava por elles. E as creaturas de sensibilidade fazem soffrer os outros por sympathia.
Por emquanto, visto que vivemos em sociedade, o unico dever dos superiores é reduzir/em/ ao minimo a sua participação na vida da tribo. Não lêr jornaes, ou lel-os só para saber o que de pouco importante e curioso se passa; ninguem imagina a volupia que arranco ao noticiario succinto das provincias. Os meros nomes abrem-me portas sobre o vago.
O supremo estado honroso para um homem superior é não saber quem é o chefe de estado do seu paíz, ou se vive sob monarchia ou sob republica.
Toda a sua attitude deve ser collocar-se a alma de modo que a passagem das cousas, dos acontecimentos não o incommode. Se o não fizer terá que se interessar pelos outros, para cuidar de si-proprio.