Em baixo, afastando-se do alto


Em baixo, afastando-se do alto onde estou em desnivelamentos de sombra, dorme ao luar, álgida, a cidade inteira.

Um desespero de ânsia, uma angústia de existir preso a mim extravasa-se por mim todo sem me exceder, confunde-me o ser em ternura, medo, dor e desolação.

Um tão inexplicável excesso de mágoa absurda, uma dor tão desolada, tão órfã, tão metafisicamente minha □


Título: Em baixo, afastando-se do alto
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 479
Página: 421
Nota: [2-31, ms.];