Senti-me inquieto já


L. do D.

Senti-me inquieto já. De repente, o silencio deixára de respirar.

Subito, de aço, um dia infinito estilhaçou-se. Agachei-me, animal, sobre a mesa, com as mãos garras inuteis sobre a tabua lisa. Uma luz sem alma entrára nos recantos e nas almas, e um som de montanha proxima desabara do alto, rasgando num grito sedas do abysmo. Meu coração parou. Bateu-me a garganta. A minha consciencia viu só um borrão de tinta num papel.


Título: Senti-me inquieto já
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: I
Número: 60
Página: 65 - 66
Nota: [3-63, dact.];