O moço atava os embrulhos de todos os dias


O moço atava os embrulhos de todos os dias no frio crepuscular do escritório vasto. "Que grande trovão", disse, para ninguém, com um tom alto de "bons-dias", o crudelíssimo bandido. Meu coração começa a bater novo. O apocalipse tinha passado..

Houve uma pausa que aparo riscava.

E com que alívio — luz forte e clara, espaço, trovão duro — este troar próximo já afastado nos aliviava do que houvera. Deus cessara. Senti-me respirar com os pulmões completos. Reparei que estava pouco ar no escritório. Notei que havia ali outra gente, sem ser o moço. Tudo parara.

Soou uma coisa trémula e crespa: era a grande folha espessa do Razão que o Moreira virara para diante, bruscamente, para verificar...


Título: O moço atava os embrulhos de todos os dias
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 482
Página: 387 - 388
Nota: [3-14, ms.];