Devaneio entre Cascaes e Lisboa


L. do D.

Devaneio entre Cascaes e Lisboa. Fui pagar a Cascaes uma contribuição do patrão Vasques, de uma casa que tem no Estoril. Gosei antecipadamente o prazer de ir, uma hora para lá, uma hora para cá, vendo os aspectos sempre varios do grande rio e da sua foz atlantica. Na verdade, ao ir, perdi-me em meditações abstractas, vendo sem ver as paisagens aquaticas que me alegrava ir ver, e ao voltar perdi-me na fixação d'estas sensações. Não seria capaz de descrever o mais pequeno pormenor da viagem, o mais pequeno trecho de visivel. Lucrei estas paginas, por olvido e contradicção. Não sei se isso é melhor ou peor do que o contrario, que tambem não sei o que é.

O comboio abranda, é o Caes do Sodré. Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão.


Título: Devaneio entre Cascaes e Lisboa
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: I
Número: 113
Página: 118 - 119
Nota: [2-53, dact.];