Jacinto do Prado Coelho - edição anotada - Usa Jacinto do Prado Coelho(93)

Não é nos largos campos


L. do D.

31-5-1932

Não é nos largos campos ou nos jardins grandes que vejo chegar a primavera. É nas poucas arvores pobres de um largo pequeno da cidade. Alli a verdura destaca como uma davida e é alegre como uma boa tristeza.

Amo esses largos solitarios, intercalados entre ruas de pouco transito, e elles mesmos sem mais transito que as ruas. São clareiras inuteis, coisas que esperam, entre tumultos longinquos. São de aldeia na cidade.

Passo por elles, subo qualquer das ruas suas affluentes, depois desço de novo essa rua, para a elle[s] regressar. Visto do outro lado é differente, mas a mesma paz deixa dourar da saudade subita — sol no occaso — o lado que não vira na ida.

Tudo é inutil, e eu o sinto como tal. Quanto vivi se me esqueceu como se ouvira distrahido. Quanto serei me não lembra como se o tivera vivido e esquecido.

Um occaso de magua leve paira vago em meu torno. Tudo esfria, não porque esfrie, mas porque entrei numa rua estreita e o largo cessou.