A arte é um esquivar-se a agir


A[lvaro] de C[ampos] (?)
                                ou L. do D. (ou outra cousa qualquer)

A arte é um esquivar-se a agir, ou a viver. A arte é a expressão intellectual da emoção, distincta da vida, que é a expressão volitiva da emoção. O que não temos, ou não ousamos, ou não conseguimos, podemos possuil-o em sonho, e é com esse sonho que fazemos arte. Outras vezes a emoção é a tal ponto forte que, embora reduzida á acção, a acção, a que se reduziu, não a satisfaz; com a emoção que sobra, que ficou inexpressa na vida, se fórma a obra de arte. Assim, ha dois typos de artista: o que exprime o que não tem, e o que exprime o que sobrou do que teve.


Título: A arte é um esquivar-se a agir
Heterónimo: Não atribuído
Número: 500
Página: 475
Nota: [1-1r];
Nota: Jerónimo Pizarro inclui este texto em apêndice no conjunto "Textos com destinação múltipla" (2010: 473-476).