Tudo se penetra


L. do. D.

Tudo se penetra. A leitura dos classicos, que não fallam de poentes, tem-me tornado intelligiveis muitos poentes, em todas as suas cores. Ha uma relação entre a competencia syntactica, pela qual se distinguem os valôres dos sêres [?], dos sons e das fórmas, e a capacidade de comprehender quando o azul do ceu é realmente verde, e que parte de amarello existe no verde azul do ceu.

No fundo é a mesma coisa — a capacidade de distinguir e de subtilizar. Sem syntaxe não ha emoção duradoura. A immortalidade é uma funcção dos grammaticos.


Título: Tudo se penetra
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: I
Número: 14
Página: 15
Data: 1931 (high)
Nota: [acr. ms. ao fra. 4-4, 1ª versão dact. do frag. 4-3];