... este livro suave


... este livro suave.

É quanto resta e restará d'uma das almas mais subtis na inercia, mais debochadas no puro sonho que teem visto este mundo. Nunca — eu o creio — houve creatura por fóra humana que mais complexamente vivesse a sua consciencia de si-propria. / Dandy no espirito, passeou a /arte/ de sonhar atravez do accaso de existir. /

Este livro é a autobiographia de quem nunca existiu.

De V[icente] G[uedes] não se sabe nem quem era, nem o que fazia, nem ☐

Este livro não é d'elle: é elle. Mas lembremo-nos sempre de que, por detraz de tudo quanto aqui está dito, /colleia/ na sombra, mysterioso, ☐

Para V[icente] G[uedes] ter consciencia de si foi uma arte e uma moral; sonhar foi uma religião.

Elle creou definitivamente a aristocracia interior, aquella attitude de alma que mais se parece com a propria attitude de corpo de um aristocrata completo.


Título: ... este livro suave
Heterónimo: Não atribuído
Número: 146
Página: 149
Data: 1917 (low)
Nota: [8-3];
Nota: O verso da folha contém uma lista de projetos, transcrita por Jerónimo Pizarro como anexo ao texto 146 (2010: 727).