CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Minhas queridas discípulas


Minhas queridas discípulas, desejo-lhes, com um fiel cumprimento dos meus conselhos, inúmeras e desdobradas volúpias não com o, mas através do, animal macho a que a Igreja ou o Estado as tiver atado pelo ventre ou pelo apelido.

É fincando os pés no solo que a ave desprende o voo. Que esta imagem, minhas filhas, vos seja a perpétua lembrança do único mandamento espiritual.

Ser uma cocote, cheia de todos os modos de vícios, sem trair o marido, nem sequer com um olhar — a volúpia disto, se souberdes consegui-lo.

Ser cocote para dentro, trair o marido para dentro, está-lo traindo nos abraços que lhe dais, não ser para ele o sentido do beijo que lhe dais — oh mulheres superiores, ó minhas misteriosas Cerebrais — a volúpia é isso.

Por que não aconselho eu isto aos homens também? Porque o Homem é outra espécie de ente. Se é inferior, recomendo-lhe que use de quantas mulheres puder: faça isso e sirva-se do meu desprezo quando ☐. E o homem superior não tem necessidade de nenhuma mulher. Não precisa de posse sexual para a sua volúpia. Ora a mulher, mesmo superior, não aceita isto: a mulher é essencialmente sexual.


Título: CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Minhas queridas discípulas
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 486-c
Página: 431
Nota: [114(1)-97 e 97a, ms.];
Nota: Richard Zenith integra este texto n' O Grande Trecho "CONSELHOS ÀS MALCASADAS" (2012: 429-431).