L. do D. Paysagem de chuva
Em cada pingo de chuva a
minha vida falhada chora
na natureza. Ha qualquér
cousa do meu desassocego
no gota a gota, no bátega a
bátega com que a tristeza do
dia se destorna inutil-
mente por sobre a terra.
Chove tanto, tanto. A
minha alma é húmida de
ouvil-o. Tanto... A minha
carne é liquida e aquosa
em torno á minha sensação
d'ella.
Um frio desassocegado põe
mãos gelidas em torno ao
meu pobre coração. As horas
cinzentas e alongam-se,
emplaniciam-se no tempo;
os momentos arrastam-se.
Como chove!
Uma mão fria aperta-me
a garganta e não me deixa
respirar a vida.
Tudo morre em mim, mesmo
o saber que posso sonhar. De
nenhum modo physico estou bem.
Todas as maciezas em que me re-
clino teem arestas para a
minh'alma. Todos os
olhares para onde olho estão
tão escuros de lhes bater esta
luz empobrecida do dia para
se morrer sem dôr.