Edição do Arquivo LdoD - Usa (BNP/E3, 7-31)

Paysagem de chuva


L. do D.        Paysagem de chuva

Em cada pingo de chuva a
minha vida falhada chora
na natureza. Ha qualquér
cousa do meu desassocego
no gota a gota, no bátega a
bátega com que a tristeza do
dia se destorna inutil-
mente por sobre a terra.

Chove tanto, tanto. A
minha alma é húmida de
ouvil-o. Tanto... A minha
carne é liquida e aquosa
em torno á minha sensação
d'ella.

Um frio desassocegado põe
mãos gelidas em torno ao
meu pobre coração. As horas
cinzentas e           alongam-se,
emplaniciam-se no tempo;
os momentos arrastam-se.

          Como chove!


2.

As biqueiras golfam torrentes
minimas de aguas sempre su-
bitas. Desce pelo meu saber
que ha canos um barulho
perturbador de descida de agua.
Bate contra a vidraça, in-
dolente, gemedoramente a chuva;
na                  

Uma mão fria aperta-me
a garganta e não me deixa
respirar a vida.

Tudo morre em mim, mesmo
o saber que posso sonhar. De
nenhum modo physico estou bem.
Todas as maciezas em que me re-
clino teem arestas para a
minh'alma. Todos os
olhares para onde olho estão
tão escuros de lhes bater esta
luz empobrecida do dia para
se morrer sem dôr.