Tudo quanto é acção


L. do D.

Tudo quanto é acção, seja a guerra ou o raciocinio é falso; e tudo quanto é abdicação é falso tambem.

Pudesse eu saber como não agir nem abdicar de agir! Seria essa a Corôa-de-sonho da minha gloria, o Sceptro-de-silencio da minha grandeza.

Eu nem soffro. O meu desdem por tudo é tão grande que me desdenho a mim proprio; que, como desprézo os soffrimentos alheios, desprézo também os meus e assim esmago sob o meu desdem o meu proprio soffrimento.

/Ah/ mas assim soffro mais... Porque dar valôr ao proprio soffrimento põe-lhe o ouro [ideal?] do orgulho. Soffrer muito pode dar a illusão de ser o Eleito da Dôr. Assim (...)


Título: Tudo quanto é acção
Heterónimo: Bernardo Soares
Volume: II
Número: 343
Página: 81
Nota: [9-30, ms.];