L. do Desass.
Não toquemos na vida nem com as pontas dos dêdos.
Não amêmos nem com o pensamento. Que nenhum beijo de mulher, nem mesmo em sonho/s/, seja uma sensação nossa.
Artifices da morbidez, requintemo'-nos em ensinar a desilludir/-se/. Curiosos da vida espreitemos a todos os postigos, antecansados de saber que não vamos vêr nada /de novo ou bello/.
Tecelões da desesperança, teçamos mortalhas apenas — mortalhas brancas para os sonhos que nunca sonhámos, mortalhas negras para os dias que morremos, mortalhas côr de cinza para os gestos que apenas sonhámos, mortalhas de purpura-de-imperio para as nossas sensações inuteis.
Pelos montados, e pelos valles e pelas margens ☐ dos ☐ pantanos, caçam caçadores o lobo e a corça e ☐, e o pato bravo tambem. Odiemol-os, não por que matam, mas porque gosam (e nós não gosamos).
Seja a expressão do nosso rosto, um sorriso pallido, como de alguem que vae chorar, um olhar vago, como de alguem que não quer vêr, um desdem esparso por todas as feições, como o de alguem que despreza a vida e a vive apenas para ter que desprezar.
E seja o nosso desprezo para os que trabalham e luctam e o nosso odio para os que esperam e confiam.