Semanas


Semanas.
            I. Regra de vida.

... /Porém/ a verdade é que a não sabemos, nem /sabemos/ como sabel-a. Tal é ella; e esta, que dissemos, a unica regra de vida, parece-nos, que o nosso desconhecimento pode talhar com conhecimento.

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A nossa ansia de verdade é grande, e porcerto o que quizeramos fôra, não esta doctrina do Limiar, senão a casa e o lar que ha nelle. De ahi a arte, feita para entretenimento dos outros e nossa occupação, dos que somos occupaveis d'esse modo. Negada a verdade, não temos com que entreter-nos senão a mentira. Com ella nos entretenhamos, dando-a porém como tal, que não como verdade; se uma hypothese metaphysica nos occorre, façamos com ella, não a mentira de um systema (onde possa ser verdade) mas a verdade de um poema ou de uma novella — verdade em saber que é mentira, e assim não mentir.

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ou em prefacio á Ficções do Interludio.

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e assim construi para mim uma regra de vida.

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Procurei a verdade ardentemente, ora com uma attenção


Título: Semanas
Heterónimo: Não atribuído
Número: 462
Página: 455
Data: 1918 (low)
Nota: [28-22];
Nota: Jerónimo Pizarro edita este texto em apêndice, integrado no conjunto "Ficções do Interludio" (2010: 454-459).