A minha imagem


A minha imagem, tal qual eu
a via nos espelhos, anda sempre
ao collo da minha alma ternura. Eu não
podia ser senão louco e debil como
sou, mesmo nos meus pensamentos.
Tudo em mim é de um principe
de chromo collado no album velho
de uma creancinha creança que morreu
sempre ha muito tempo.

(Amar-me é ter pena de mim.)

( Um dia, lá para o fim do futuro, alguem escreverá
sobre mim um poema, e talvez então eu comece a
reinar no meu Reyno ).

— Senhor, não vos afflijaes!

— Não me afflijo... A minha dôr é tão bella que mesmo eu não a sei soffrer... eu nem sei como a soffrer...
É a corôa que eu nunca terei
e o manto throno regio que nunca será
meu.

Deus é o existirmos e isto
não ser tudo.


Identificação: bn-acpc-e-e3-94-1-100_0149_75_t24-C-R0150
Heterónimo: Não atribuído
Formato: Folha (11.5cm X 13.7cm)
Material: Papel
Colunas: 1
LdoD Mark: Sem marca LdoD
Manuscrito (pencil) : Testemunho manuscrito a lápis e a tinta preta.
Nota: , Texto escrito no recto de um fragmento de papel quadriculado. O facto de o texto ter sido escrito a lápis e a tinta preta sugere dois momentos de composição.
Fac-símiles: BNP/E3, 94-75r.1