L. do D.
Um dia
Em vez de almoçar — necessidade
que tenho de fazer acontecer-me to-
dos os dias — fui ver o Tejo, e
voltei a vaguear pelas ruas sem
mesmo suppor que achei util á
alma vel-o. Ainda assim...
Viver não vale a pena. Só olhar
é que vale a pena. Poder olhar
sem viver realizaria a felicidade,
mas é impossível, como tudo
quanto costuma ser o que sonhamos.
O extase que não incluisse ∧contivesse a vida!...
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Crear ao menos um pessimismo
novo, uma nova negação, para que
tivessemos a
illusão que de nós alguma cousa, ainda
que para mal, ficava!
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Sempre fôram alvo da pontaria
consciente do meu odio aquelles que
pugnam — é o verbo d'elles — pela
liberdade e pela justiça. Não os
odeio e desprezo tanto porque amam,
ou julgam que amam, a justiça e
a outra, como porque o seu protesto
involve fatalmente uma antipathia,
ruinosa de belleza, pelos ∧para com os tyrannos
e pelos ∧para com os despotas.
Nunca, penso, lhes terá alguem cari-
doso lembrado a utilidade, não só esthetica
(essa é indiscutivel) mas social mesmo,
dos tyrannos. Convenho em que a uti-
lidade social de qualquer cousa é
de minima importancia para a
sociedade. N'isso estou de accordo
com todos quantos são politicos.
No que divirjo dos usuaes é em
não lhes julgar razão quando creem
que os tyrannos são maleficos; que
são, mesmo, inimigos da liberdade
e da justiça.