UM DIA


UM DIA

Em vez de almoçar — necessidade que tenho de fazer acontecer-me todos os dias — fui ver o Tejo, e voltei a vaguear pelas ruas sem mesmo supor que achei útil à alma vê-lo. Ainda assim...

Viver não vale a pena. Só olhar é que vale a pena. Poder olhar sem viver realizaria a felicidade, mas é impossível, como tudo quanto costuma ser o que sonhamos. O êxtase que não incluísse a vida!...

Criar ao menos um pessimismo novo, uma nova negação, para que tivéssemos a ilusão que de nós alguma coisa, ainda que para mal, ficava!


Título: UM DIA
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 474
Página: 418
Nota: [112-9, ms.];