L. do D.
Uma secção intitulada: Paciencias
(inclue Na Fl[oresta] do Alh[eamento]?)
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As miserias de um homem que sente o tedio da vida do terraço da sua villa rica são uma cousa; são outra cousa as miserias de quem, como eu, tem que contemplar a paysagem do meu quarto num 4.º andar da Baixa, e sem poder esquecer que é ajudante de guarda-livros. "Tout notaire a rêvé des sultanes".....
Tenho um prazer intimo, da ironia do ridiculo immerecido, quando, sem que alguem extranhe, declaro, nos actos officiaes, em que é preciso dizer a profissão: empregado no commercio. Não sei como inserto o meu nome vem assim no Annuario Commercial.
As tias velhas dos que as tiveram, nos serões a pretroleo das casas vagas na provincia, entretinham a hora em que a creada dorme ao som crescente da chaleira com a saudade a saudade methodica e reflectida a fazer paciencias com cartas. Tem saudades em mim d'esse sossego inutil alguem que se colloca no meu logar. Vem o chá e o baralho velho amontoa-se regular ao canto da meza. O guarda-louça enorme escurece a sombra, na sala de jantar apenumbrada. Sua de somno a cara da creada apressada lentamente por acabar. Vejo isso tudo em mim com uma angustia e uma saudade independentes de ter relação com qualquer cousa. E, sem querer, ponho-me a considerar qual é o stado de espirito de quem faz paciencias com cartas.