E para ti, ó Morte


E para ti, ó Morte, vá a nossa alma e a nossa crença, a nossa esperança e a nossa saudação!

Senhora das Últimas Coisas, Nome Carnal do Mistério e do Abismo — alenta e consola quem te busca, sem te ousar procurar!

Senhora da Consolação, Lago ao luar dormindo entre rochedos, longe da lama e da poluição da Vida!

Virgem-Mãe do Mundo absurdo, forma do Caos incompreendido, alastra e estende o teu reino sobre todas as coisas — sobre as flores que pressentem que murcham, sobre as feras que estremecem de velhas, sobre as almas que nasceram para te amar entre o erro e a ilusão da vida!

A vida, espiral do Nada, infinitamente ansiosa por o que não pode haver.


Título: E para ti, ó Morte
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 516
Página: 497
Nota: [4-64, misto];
Nota: Richard Zenith edita este texto em apêndice, no conjunto intitulado "Matéria fragmentária da «Marcha Fúnebre para o Rei Luís Segundo da Baviera»" (2012: 497-498).