Como o gladiador na arena


Como o gladiador na arena em que foi posto pelo destino que de escravo o expôs condenado, saúdo, sem que trema, o César que haja neste circo rodeado de estrelas. Saúdo de frente, sem orgulho, que o não pode ter o escravo, nem alegria que a não pode fingir o condenado. Mas saúdo, para que não falte à lei aquele a quem toda a lei falta.

Mas, acabando de saudar, cravo no peito o gládio que me não servirá no combate. Se o vencido é o que morre e o vencedor quem mata, com isto, confessando-me vencido, me instituo vencedor.


Título: Como o gladiador na arena
Heterónimo: Bernardo Soares
Número: 499
Página: 401
Nota: [28-23, ms.];
Nota: Apenas Teresa Sobral Cunha inclui este texto no corpus do "Livro do Desassossego".