Em sua essência a vida é monótona
Em sua essência a vida é monótona. A felicidade consiste, pois, numa adaptação razoavelmente exacta à monotonia da vida.
Tornarmo-nos monótonos é tornarmo-nos iguais à vida, é, em suma, viver plenamente. E viver plenamente é ser feliz.
Os ilógicos doentes riem — de mau grado, no fundo — da felicidade burguesa, da monotonia da vida do burguês que vive em regularidade pútrida e (...) da mulher dele que se entretém no arranjo da casa e se distrai nas minúcias de cuidar dos filhos e fala das visitas e dos conhecidos. Isto, porém, é que é a
felicidade.
Parece, a princípio, que as coisas novas é que deviam dar prazer ao espírito; mas as coisas novas são poucas e cada uma delas é nova só uma vez. Depois, a sensibilidade é limitada e não vibra independentemente. Um excesso de coisas novas acaba por cansar, porque não há sensibilidade para acompanhar os estímulos dela.
Conformar-se com a monotonia é achar tudo novo sempre. A visão burguesa da vida é a visão científica; porque, com efeito, tudo é sempre novo, e antes deste hoje nunca houve este hoje.