É nobre ser tímido, ilustre não saber agir



É nobre ser tímido, ilustre não saber agir, grande não ter jeito para viver.

Só o Tédio, que é um afastamento, e a Arte, que é um desdém, douram de uma semelhança de contentamento a nossa ☐.

Fogos-fátuos que a nossa podridão gera, são ao menos luz nas nossas trevas.

Só a infelicidade eleva — e o tédio, que da infelicidade curtimos, é heráldico como o ser descendente de heróis longínquos. ☐

Sou um poço de gestos que nem em mim se esboçaram todos, de palavras que nem pensei pondo curvas nos meus lábios, de sonhos que me esqueci de sonhar até ao fim.

Sou ruínas de edifícios que nunca foram mais do que essas ruínas, que alguém se furtou, em meio de construí-las, de pensar em querer construir.

Não nos esqueçamos de odiar os que gozam porque gozam, de desprezar os que são alegres, por não sabermos ser, nós, alegres como eles... Esse desdém falso, esse ódio fraco não são senão o pedestal tosco e sujo da terra em que se finca sobre o qual, altiva e única, a estátua do nosso Tédio se ergue, escuro vulto cuja face um sorriso impenetrável nimba vagamente de segredo.

Benditos os que não confiam a vida a ninguém.