Agi sempre para dentro...



Agi sempre para dentro... Nunca toquei na vida... Sempre que esboçava um gesto, acabava-o em sonho, heroicamente... Uma espada pesa mais que a ideia de uma espada... Commandei grandes exércitos — venci grandes batalhas, gosei grandes derrotas — tudo dentro de mim...

Gostava de passear sósinho pelas alamedas e pelos grandes corredores e de commandar as arvores e desafiar os retratos das paredes... No grande corredor sombrio que ha ao fundo do palacio passeei com a minha noiva muitas vezes... Eu nunca tive noiva real... Nunca soube como se amava... Apenas soube como se sonhava amar... Se eu gostava de usar anneis de dama nos meus dedos é que ás vezes queria julgar que as minhas mãos eram de princeza e que eu era, pelo menos no gesto das m[inhas] mãos, aquella que eu amava...

Um dia fôram-me encontrar vestido de rainha... Eu estava sonhando que eu era a minha esposa regia... Gostava de vêr a m[inha] face reflectida porque podia sonhar que era a face de outra criatura — porque era de formas femininas, que era de minha amada que era a m[inha] face reflectida... Quantas vezes a minha boca tocou na m[inha] boca n'esse espelho!... Quantas vezes apertei uma das m[inhas] mãos com a outra, quantas acariciei meus cabellos com a m[inha] mão /alheada/ para que parecesse d'ella ao tocar-me. Não sou eu que te estou dizendo isto... É o resto de mim que está fallando.