dfjk
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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Tenho que escolher o que detesto
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teste
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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Tenho que escolher o que detesto
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alma alli alma alliExtracted alma ser
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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(Chapter on Indifference or something like that)
(Luares)
(lunar scene)
... a acuidade dolorosa das minhas sensações
... e desnivela-se em conglomerados de sombra
... e do alto da majestade de todos os sonhos
... e um profundo e tediento desdém
... este livro suave
A ESTALAGEM DA RAZÃO
A leitura dos jornais
A liberdade é a possibilidade do isolamento
A maioria da gente enferma
A maioria dos homens
A tragédia principal da minha vida
A vida pode ser sentida como uma náusea
A vulgaridade é um lar
A única atitude digna de um homem superior
ABSURDO
Acontece-me às vezes, e sempre que acontece
Alastra ante meus olhos saudosos
Aquela malícia incerta e quase imponderável
Aquilo que, creio, produz em mim
As coisas modernas são
Assim organizar a nossa vida
Atingir, no estado místico
CENOTÁFIO
CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Minhas queridas discípulas
Cada vez que viajo, viajo imenso
Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender
Cheguei hoje, de repente
Colaborar, ligar-se, agir
Conheço, translata, a sensação de ter comido
Considerar a nossa maior angústia
Criei para mim, fausto de um opróbrio
DECLARAÇÃO DE DIFERENÇA
DIA DE CHUVA
DIÁRIO AO ACASO
De repente, como se um destino
De suave e aérea a hora era uma ara onde orar
Depois que o fim dos astros esbranqueceu
Desde que, conforme posso
Desejaria construir um código de inércia
Disse Amiel que uma paisagem é um estado da alma
Dizem que o tédio é uma doença de inertes
Do Prefácio às FICÇÕES DO INTERLÚDIO | Umas figuras insiro em contos
Duas vezes, naquela minha adolescência
E assim sou, fútil e sensível
ESTÉTICA DA INDIFERENÇA
ESTÉTICA DO DESALENTO [Publicar-se — socialização de si próprio]
Em mim foi sempre menor a intensidade
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | Do estudo da metafísica
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | Primeiro entretiveram-me
Falar é ter demasiada consideração pelos outros
Foi sempre com desgosto que li
Há momentos em que tudo cansa
Há sensações que são sonos
Há um cansaço da inteligência abstracta
Há um sono da atenção voluntária
Há uma erudição do conhecimento
INTERVALO DOLOROSO [Se me perguntardes]
Invejo a todas as pessoas o não serem eu
Irrita-me a felicidade de todos estes homens
LAGOA DA POSSE | A posse é para meu pensar uma lagoa absurda
MANEIRA DE BEM SONHAR | Adia tudo
MARCHA FÚNEBRE [Figuras heriáticas, de hierarquias ignotas]
MARCHA FÚNEBRE [Que faz cada um]
Mais que uma vez, ao passear lentamente
Mas a exclusão, que me impus
Meus sonhos: Como me crio
Muitos têm definido o homem
MÁXIMAS
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | E se acaso falo com alguém
Na minha alma ignóbil e profunda registo
Nada me pesa tanto no desgosto
Nasci em um tempo
Nenhuma ideia brilhante consegue entrar
Ninguém ainda definiu
Não se subordinar a nada
Não sei que vaga carícia
O AMANTE VISUAL | Anteros
O RIO DA POSSE
O campo é onde não estamos
O céu negro ao fundo do sul do Tejo
O dinheiro, as crianças, os doidos
O governo do mundo começa em nós mesmos
O homem não deve poder ver a sua própria cara
O instinto infante da humanidade
O lema que hoje mais requeiro para definição
O pensamento pode ter elevação
O próprio sonho me castiga
O que tenho sobretudo é cansaço
O único viajante com verdadeira alma
Os classificadores de coisas
Os sentimentos que mais doem
Paira-me à superfície do cansaço
Passaram meses sobre o último que escrevi
Penso às vezes, com um deleite triste
Penso, muitas vezes, em como eu seria
Perder tempo comporta uma estética
Pertenço a uma geração que herdou a descrença
Podemos morrer se apenas amámos
Por fácil que seja, todo o gesto representa
Quando durmo muitos sonhos
Quando outra virtude não haja em mim
Que de Infernos e Purgatórios
Se alguma coisa há que esta vida tem
Se considero com atenção a vida
Sempre me tem preocupado
Sossego enfim
Suponho que seja o que chamam um
decadente
Súbdito incoerente de todas as sensações
Tenho a náusea física da humanidade vulgar
Teorias metafísicas que possam dar-nos
Todo o dia, em toda a sua desolação
Todos os dias acontecem no mundo coisas
Todos os movimentos da sensibilidade
Três dias seguidos de calor sem calma
Tudo quanto não é a minha alma é para mim
Tudo quanto é acção, seja a guerra ou o raciocínio
Tudo é absurdo
Tão dado como sou ao tédio
UM DIA
UMA CARTA | Há um vago número
Um azul esbranquiçado de verde nocturno
Um hálito de música ou de sonho
Um outro tedio, mais morno
Uma das minhas preocupações constantes
Uma vista breve de campo
Vi e ouvi ontem um grande homem
Viajar? Para viajar basta existir
À parte aqueles sonhos vulgares
É uma oleografia sem remédio
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alma alli alma alliExtracted alma serExtracted
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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A alma humana é vítima
A ideia de viajar nauseia-me
A ideia de viajar seduz-me
Que me pesa que ninguem leia o que escrevo?
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade
Remoinhos, redemoinhos, na futilidade fluida
Saber ser supersticioso
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alma sonho
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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... e um profundo e tediento desdém
... o sagrado instinto de não ter teorias
A doçura de não ter família nem companhia
A fé é o instinto da acção
A loucura chamada afirmar
CARTA
CENOTÁFIO
CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Livrai-vos sobretudo de cultivar
CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Minhas queridas discípulas
Com que luxúria ☐ transcendente eu
Considerar todas as coisas
Dar a cada emoção uma personalidade
De resto eu não sonho, eu não vivo
E assim como sonho, raciocino se quiser
ESTÉTICA DA ABDICAÇÃO
Eu não possuo o meu corpo
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | O meu hábito vital da descrença
INTERVALO DOLOROSO [Tudo me cansa]
Junta as mãos, põe-as entre as minhas
LENDA IMPERIAL
MANEIRA DE BEM SONHAR | Adia tudo
Meus sonhos: Como me crio
NA FLORESTA DO ALHEAMENTO
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | E se acaso falo com alguém
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Esplendor do nada, nome do abismo
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Tu não és mulher
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Tu és do sexo das formas sonhadas
Não acredito na paisagem
Não o amor, mas os arredores é que vale a pena
Nós não podemos amar, filho
O RIO DA POSSE
O prazer de nos elogiarmos
PERISTILO | Correm rios, rios eternos
Para sentir a delícia e o terror da velocidade
Pensaste já, ó Outra, quão invisíveis somos
Por fácil que seja, todo o gesto representa
Repudiei sempre que me compreendessem
SONHO TRIANGULAR [No meu sonho]
São horas talvez de eu fazer
Tornar puramente literária a receptividade
Tudo é absurdo
Visto que talvez nem tudo seja falso
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arvores sombras
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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... a acuidade dolorosa das minhas sensações
... e do alto da majestade de todos os sonhos
...e os lírios nas margens de rios remotos
A loucura chamada afirmar
A vida, para a maioria dos homens
Ah, é um erro doloroso e crasso
Alastra ante meus olhos saudosos
Cantava, em uma voz muito suave
Criei para mim, fausto de um opróbrio
De suave e aérea a hora era uma ara onde orar
Depois de uma noite mal dormida
E para ti, ó Morte
EXAME DE CONSCIÊNCIA
Eu não possuo o meu corpo
Haja ou não deuses
LENDA IMPERIAL
Luís II — end of 2 | ... e baixada a ponte levadiça
MARCHA FÚNEBRE PARA O REI LUÍS SEGUNDO DA BAVIERA | Hoje, mais demorada do que nunca
MARCHA FÚNEBRE [Figuras heriáticas, de hierarquias ignotas]
NA FLORESTA DO ALHEAMENTO
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | A minha vida é tão triste
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Esplendor do nada, nome do abismo
Nem se sabe se o que acaba do dia
Nenhum prémio certo tem a virtude
No recôncavo da praia à beira-mar
Não me encontro um sentido
Não é nos largos campos ou nos jardins
O olfacto é uma vista estranha
PERISTILO | Correm rios, rios eternos
Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa
Passávamos, jovens ainda, sob as árvores
altas
Penso às vezes, com um deleite triste
Por fácil que seja, todo o gesto representa
Prouvera aos deuses
Quantas vezes, presa da superfície e do bruxedo
Quanto mais contemplo o espectáculo do mundo
Que rainha imprecisa guarda ao pé dos seus lagos
Reconheço hoje que falhei
Remoinhos, redemoinhos, na futilidade fluida
SINFONIA DE UMA NOITE INQUIETA
Sabendo como as coisas mais pequenas
Sinto o tempo com uma dor enorme
Todo o pensamento
Trazei vós o pálio de ouro e morte
VIA LÁCTEA | ...com meneios de frase
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chuva noite
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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... a acuidade dolorosa das minhas sensações
... como uma criança que pára de correr
... reles como os fins da vida que vivemos
..., barcos que passam na noite
...a chuva caía ainda triste
A fé é o instinto da acção
A manhã, meio fria, meio morna
A sensação de convalescença
Alastra ante meus olhos saudosos
Atingir, no estado místico
Atrás dos primeiros menos-calores do estio
CASCATA
Caminhávamos, juntos e separados
Cheguei hoje, de repente
Chove muito, mais, sempre mais
Como há quem trabalhe de tédio
Como nos dias em que trovoada se prepara
Como uma esperança negra
Dar a cada emoção uma personalidade
Depois dos dias todos de chuva
Depois que o calor cessou
Depois que os últimos calores do estio
Depois que os últimos pingos da chuva
Desde antes de manhã cedo
Disse Amiel que uma paisagem é um estado da alma
Duas vezes, naquela minha adolescência
Durei horas incógnitas
Em baixo, afastando-se do alto
Em mim foi sempre menor a intensidade
Floresce alto na solidão nocturna
Há muito tempo que não escrevo
Há muito — não sei se há dias, se há meses
Há sensações que são sonos
Há sossegos do campo na cidade
Há uma técnica do sonho
INTERVALO [Esta hora horrorosa]
LENDA IMPERIAL
Lento, no luar lá fora da noite lenta
Minha alma é uma orquestra oculta
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | E se acaso falo com alguém
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Esplendor do nada, nome do abismo
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Tu não és mulher
Na grande claridade do dia
Na minha alma ignóbil e profunda registo
Nem se sabe se o que acaba do dia
No alto ermo dos montes naturais
No nevoeiro leve da manhã de meia-primavera
Nos primeiros dias do outono subitamente entrado
Nunca durmo: vivo e sonho
Não fizeram, Senhor, as vossas naus
Não sei porquê — noto-o subitamente
Não sei que vaga carícia
Não é nos largos campos ou nos jardins
O MAJOR
O céu negro ao fundo do sul do Tejo
O gládio de um relâmpago frouxo
O instinto infante da humanidade
O moço atava os embrulhos de todos os dias
O poente está espalhado pelas nuvens soltas
O que há de mais reles nos sonhos
O relógio que está lá para trás
O silêncio que sai do som da chuva espalha-se
O vento levantou-se
PAISAGEM DE CHUVA [Em cada pingo]
PAISAGEM DE CHUVA [Toda a noite]
Paira-me à superfície do cansaço
Passaram meses sobre o último que escrevi
Passávamos, jovens ainda, sob as árvores
altas
Penso às vezes, com um deleite triste
Por entre a casaria, em intercalações de luz e sombra
Primeiro é um som que faz um outro som
Quando durmo muitos sonhos
Que me pesa que ninguem leia o que escrevo?
Quem quisesse fazer um catálogo de monstros
Remoinhos, redemoinhos, na futilidade fluida
SENTIMENTO APOCALÍPTICO
SINFONIA DA NOITE INQUIETA
SINFONIA DE UMA NOITE INQUIETA
SONHO TRIANGULAR [A luz tornara-se]
SONHO TRIANGULAR [No meu sonho]
Se a nossa vida fosse um eterno estar-à-janela
Senti-me inquieto já
Sim, é o poente
Sinto o tempo com uma dor enorme
Sobra silêncio escuro lividamente
Sossego enfim
Sou mais velho que o Tempo
Suponho que seja o que chamam um
decadente
Surge dos lados do oriente
TROVOADA
Tenho sido sempre um sonhador irónico
Toda a vida da alma humana é um movimento
Todos aqueles acasos infelizes da nossa vida
Trazei vós o pálio de ouro e morte
Viver é ser outro.
[PAISAGEM DE] CHUVA [E, por fim — vejo-o]
Ó noite onde as estrelas mentem luz
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cousas realidade
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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"Sentir é uma maçada"
... e um profundo e tediento desdém
A DIVINA INVEJA
A habilidade em construir sonhos complexos
A ideia de viajar nauseia-me
A leve embriaguez da febre ligeira
A procura da verdade
A vida prática sempre me pareceu
Amo, pelas tardes demoradas de verão
As coisas sonhadas só têm o lado de cá
CASCATA
De resto eu não sonho, eu não vivo
Devaneio entre Cascais e Lisboa
Do terraço deste café
E para ti, ó Morte
EDUCAÇÃO SENTIMENTAL
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | Do estudo da metafísica
INTERVALO DOLOROSO [Como alguém cujos olhos]
MILÍMETROS
Meus sonhos: Como me crio
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Rezo a ti o meu amor
Nesta era metálica dos bárbaros
O AMANTE VISUAL | Anteros
O SENSACIONISTA
O prazer de nos elogiarmos
Paisagens inúteis como aquelas que dão a volta
Penso às vezes com um agrado
Reconheço hoje que falhei
SENTIMENTO APOCALÍPTICO
SINFONIA DA NOITE INQUIETA
Saber não ter ilusões
Sou mais velho que o Tempo
Suponho que seja o que chamam um
decadente
Tenho mais pena dos que sonham o provável
VIA LÁCTEA | ...com meneios de frase
VIA LÁCTEA | Em mim o que há de primordial
VIAGEM NUNCA FEITA | E assim escondo-me
VIAGEM NUNCA FEITA | Não desembarcar não tem cais
Vejo as paisagens sonhadas
Viver do sonho e para o sonho
«Ideias metafísicas do Livro do Desassossego»
Às vezes, nos meus diálogos comigo
Às vezes, sem que o espere
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era tinha
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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A DIVINA INVEJA
A SOCIEDADE EM QUE EU VIVO
A manhã, meio fria, meio morna
As coisas modernas são
Caminhávamos, juntos e separados
Cantava, em uma voz muito suave
Com um charuto caro
Dar a cada emoção uma personalidade
Depois que as últimas chuvas passaram
Depois que os últimos calores do estio
Depois que os últimos pingos da chuva
Desde antes de manhã cedo
Desde o meio do século dezoito
Desde o princípio baço do dia quente
ESTÉTICA DO DESALENTO [Publicar-se — socialização de si próprio]
Gostaria de estar no campo
LITANIA
Na grande claridade do dia
Não acredito na paisagem
Névoa ou fumo?
O céu negro ao fundo do sul do Tejo
O homem não deve poder ver a sua própria cara
O moço atava os embrulhos de todos os dias
O verdadeiro sábio
PAISAGEM DE CHUVA [Toda a noite]
PREFÁCIO
Poder reencarnar numa pedra
Qualquer deslocamento das horas usuais
Quando criança eu apanhava
Quantas coisas, que temos por certas ou justas
Que rainha imprecisa guarda ao pé dos seus lagos
Reconheço hoje que falhei
SONHO TRIANGULAR [A luz tornara-se]
Tenho a náusea física da humanidade vulgar
VIAGEM NUNCA FEITA | E assim escondo-me
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escrever tenho
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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A Adolfo Casais Monteiro, em 13 de Janeiro de 1935
A Armando Cortes-Rodrigues, em 19 de Novembro de 1914
A Armando Cortes-Rodrigues, em 2 de Setembro de 1914
A Armando Cortes-Rodrigues, em 4 de Outubro de 1914
A João Gaspar Simões, em 28 de Julho de 1932
A João de Lebre e Lima, em 3 de Maio de 1914
CARTA PARA NÃO MANDAR
Cristo é uma forma da emoção
Detesto a leitura
Fazer uma obra e reconhecê-la
Invejo — mas não sei se invejo —
Nota para as edições próprias
Não toquemos na vida nem com as pontas dos dedos
O dinheiro, as crianças, os doidos
O próprio escrever perdeu a doçura para mim
O sonho é a pior das drogas
Outra vez encontrei um trecho meu
Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa
Podemos morrer se apenas amámos
Quando criança eu apanhava
Que de Infernos e Purgatórios
Releio, em uma destas sonolências sem sono
Reparando às vezes no trabalho literário
Se houvesse na arte o mister de aperfeiçoador
Tenho diante de mim as duas páginas
Tenho que escolher o que detesto
Tive sempre uma repugnância
UMA CARTA | Eu não saberia
Às vezes, quando ergo a cabeça
É a última morte do Capitão Nemo
É legítima toda a violação da lei moral
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espirito creio
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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(cópia duma carta para Pretória) | Eu tenho passado bem de saúde
... este livro suave
A Armando Cortes-Rodrigues, em 19 de Novembro de 1914
A Armando Cortes-Rodrigues, em 2 de Setembro de 1914
A Armando Cortes-Rodrigues, em 4 de Outubro de 1914
A João de Lebre e Lima, em 3 de Maio de 1914
A leve embriaguez da febre ligeira
A vida é uma viagem experimental
Aquela malícia incerta e quase imponderável
Aquilo que, creio, produz em mim
Busco-me e não me encontro
Coisas de nada, naturais da vida
Como todo o indivíduo de grande mobilidade
DIÁRIO LÚCIDO
Doem-me a cabeça e o universo
Duas vezes, naquela minha adolescência
E assim como sonho, raciocino se quiser
E assim sou, fútil e sensível
Em todos os lugares da vida
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | O meu hábito vital da descrença
Fazer uma obra e reconhecê-la
Foi sempre com desgosto que li
Há uma técnica do sonho
INTERVALO DOLOROSO [Se me perguntardes]
Invejo — mas não sei se invejo —
Ler é sonhar pela mão de outrem
Não acredito na paisagem
O AMANTE VISUAL | Nem em torno dessas figuras
O SENSACIONISTA
O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança
Quantas vezes, no decurso dos mundos
Saber que será má a obra
Sempre que podem, sentam-se
Só uma vez fui verdadeiramente amado
Tudo quanto de desagradável nos sucede na vida
Tudo se me evapora
Um quietismo estético da vida
Uma das grandes tragédias da minha vida
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homem dizer
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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"Sentir é uma maçada"
(cópia duma carta para Pretória) | Eu tenho passado bem de saúde
..., barcos que passam na noite
A SOCIEDADE EM QUE EU VIVO
A literatura, que é a arte casada com o pensamento
A reductio ad absurdum é
Ah, é um erro doloroso e crasso
Colaborar, ligar-se, agir
Escrevo com uma estranha mágoa
Gosto de dizer
Hoje, como me oprimisse a sensação do corpo
Há dias em que cada pessoa que encontro
Meditei hoje, num intervalo de sentir
Muitos têm definido o homem
Nada me pesa tanto no desgosto
Nunca deixo saber aos meus sentimentos
O dinheiro é belo, porque é uma libertação
O governo do mundo começa em nós mesmos
O homem perfeito do pagão
O instinto infante da humanidade
O povo é bom tipo
O vento levantou-se
OMAR KHAYYAM [O tédio de Khayyam]
Pensaste já, ó Outra, quão invisíveis somos
Prefiro a prosa ao verso
Quando, como uma noite de tempestade
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade
Sim, é o poente
Uma das grandes tragédias da minha vida
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homem grande
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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"Sentir é uma maçada"
... e do alto da majestade de todos os sonhos
... reles como os fins da vida que vivemos
A experiência directa é o subterfúgio
A leitura dos jornais
A mania do absurdo e do paradoxo
A oportunidade é como o dinheiro
A personagem individual e imponente
A vida prática sempre me pareceu
Ah, é um erro doloroso e crasso
Amo, pelas tardes demoradas de verão
Aquilo que, creio, produz em mim
Cada vez que o meu propósito se ergueu
Coisas de nada, naturais da vida
Com um charuto caro
Cristo é uma forma da emoção
Do Prefácio às FICÇÕES DO INTERLÚDIO | Nestes desdobramentos de personalidade
Do Prefácio às FICÇÕES DO INTERLÚDIO | Umas figuras insiro em contos
Duas vezes, naquela minha adolescência
Durei horas incógnitas
Encaro serenamente
Foi-se hoje embora, disseram que definitivamente
Hoje, como me oprimisse a sensação do corpo
Há quanto tempo não escrevo!
MARCHA FÚNEBRE [Que faz cada um]
Muitos têm definido o homem
Não sei porquê — noto-o subitamente
O calor, como uma roupa invisível
O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida
O moço atava os embrulhos de todos os dias
O mundo é de quem não sente
O orgulho é a certeza emotiva da grandeza própria
O patrão Vasques
O que há de mais reles nos sonhos
O sócio capitalista aqui da firma
O único viajante com verdadeira alma
Os classificadores de coisas
Outra vez encontrei um trecho meu
Pedi tão pouco à vida
Penso, muitas vezes, em como eu seria
Qualquer deslocamento das horas usuais
Quando outra virtude não haja em mim
Quando vivemos constantemente no abstracto
Quanto mais alta a sensibilidade
Quanto mais alto o homem
Repudiei sempre que me compreendessem
Sinto-me às vezes tocado
São horas talvez de eu fazer
Só uma vez fui verdadeiramente amado
TROVOADA
Tenho a náusea física da humanidade vulgar
Tenho diante de mim as duas páginas
Tenho mais pena dos que sonham o provável
Tive sempre uma repugnância
Tudo ali é quebrado, anónimo e impertencente
Uma só coisa me maravilha mais do que a estupidez
Vi e ouvi ontem um grande homem
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intelligencia deus
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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"Sentir é uma maçada"
(Chapter on Indifference or something like that)
... a hiperacuidade não sei se das sensações
A arte é um esquivar-se a agir
A mania do absurdo e do paradoxo
Adoramos a perfeição, porque a não podemos ter
Ah, é um erro doloroso e crasso
Choro sobre as minhas páginas imperfeitas
Com que luxúria ☐ transcendente eu
DECLARAÇÃO DE DIFERENÇA
DIÁRIO LÚCIDO
Desde o meio do século dezoito
ESTÉTICA DA ABDICAÇÃO
ESTÉTICA DO DESALENTO [Já que não podemos extrair]
Em todos os lugares da vida
GLORIFICAÇÃO DAS ESTÉREIS
Hoje, como me oprimisse a sensação do corpo
Invejo — mas não sei se invejo —
Junta as mãos, põe-as entre as minhas
Mais que uma vez, ao passear lentamente
Nenhum problema tem solução
Nenhum prémio certo tem a virtude
Não se subordinar a nada
O calor, como uma roupa invisível
O entusiasmo é uma grosseria
O próprio escrever perdeu a doçura para mim
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade
Teorias metafísicas que possam dar-nos
Ter já lido os Pickwick Papers
Todo o homem de hoje
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livro caeiro
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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... a tristeza solene que habita em todas as coisas
... este livro suave
A Adolfo Casais Monteiro, em 13 de Janeiro de 1935
A Armando Cortes-Rodrigues, em 2 de Setembro de 1914
A Armando Cortes-Rodrigues, em 4 de Outubro de 1914
A João Gaspar Simões, em 28 de Julho de 1932
A arte consiste em fazer os outros sentir
Cheguei hoje, de repente
Colaborar, ligar-se, agir
Dar a cada emoção uma personalidade
Do Prefácio às FICÇÕES DO INTERLÚDIO | Nestes desdobramentos de personalidade
Ficções do interlúdio
Hoje, como me oprimisse a sensação do corpo
Na perfeição nítida do dia
Nota para as edições próprias
Não conheço prazer como o dos livros
O próprio escrever perdeu a doçura para mim
Perder tempo comporta uma estética
Prefiro a prosa ao verso
Quanto mais alto o homem
Somos morte. Isto, que consideramos vida
Uma das minhas preocupações constantes
Visto que talvez nem tudo seja falso
|
livro era
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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"De que é que você se está a rir?"
... a tristeza solene que habita em todas as coisas
...a chuva caía ainda triste
A ideia de viajar seduz-me
A mania do absurdo e do paradoxo
A personagem individual e imponente
A reductio ad absurdum é
A vida pode ser sentida como uma náusea
Cheguei àquele ponto em que o tédio
Como uma esperança negra
Desde o princípio baço do dia quente
Detesto a leitura
E os diálogos nos jardins fantásticos
E, hoje, pensando no que tem sido a minha vida
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | O desgosto de não encontrar nada
Foi sempre com desgosto que li
INTERVALO DOLOROSO [Se me perguntardes]
Nos primeiros dias do outono subitamente entrado
Não conheço prazer como o dos livros
Não o amor, mas os arredores é que vale a pena
O prazer de nos elogiarmos
O sócio capitalista aqui da firma
PASTORAL DE PEDRO
Para sentir a delícia e o terror da velocidade
Quem tenha lido as páginas deste livro
Reconhecer a realidade como uma forma da ilusão
SINFONIA DA NOITE INQUIETA
Senti-me inquieto já
Sobra silêncio escuro lividamente
UMA CARTA | Eu não saberia
UMA CARTA | Há um vago número
Às vezes, nos meus diálogos comigo
|
mesmo cousas
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
... e um profundo e tediento desdém
... este livro suave
A Armando Cortes-Rodrigues, em 19 de Novembro de 1914
A Armando Cortes-Rodrigues, em 2 de Setembro de 1914
A João de Lebre e Lima, em 3 de Maio de 1914
A alma humana é vítima
A experiência directa é o subterfúgio
A mais vil de todas as necessidades
A vida prática sempre me pareceu
ABSURDO
Assim organizar a nossa vida
CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Livrai-vos sobretudo de cultivar
Cada vez que viajo, viajo imenso
Colaborar, ligar-se, agir
Criar dentro de mim um Estado
Cultivo o ódio à acção como uma flor de estufa
DECLARAÇÃO DE DIFERENÇA
Desejaria construir um código de inércia
Do Prefácio às FICÇÕES DO INTERLÚDIO | Umas figuras insiro em contos
Dois, três dias de semelhança
EDUCAÇÃO SENTIMENTAL
ESTÉTICA DO ARTIFÍCIO
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | O meu hábito vital da descrença
GLORIFICAÇÃO DAS ESTÉREIS
MÁXIMAS
Nesta era metálica dos bárbaros
Nunca deixo saber aos meus sentimentos
O governo do mundo começa em nós mesmos
O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida
O lema que hoje mais requeiro para definição
O mundo é de quem não sente
O orgulho é a certeza emotiva da grandeza própria
O prazer de nos elogiarmos
Paisagens inúteis como aquelas que dão a volta
Pensar, ainda assim, é agir
Penso às vezes com um agrado
Perder tempo comporta uma estética
Poder reencarnar numa pedra
Que de Infernos e Purgatórios
Sempre me tem preocupado
Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam
Súbdito incoerente de todas as sensações
Tendo visto com que lucidez
Ter já lido os Pickwick Papers
Tudo quanto é acção, seja a guerra ou o raciocínio
UMA CARTA | Eu não saberia
Uma opinião é uma grosseria
«Ideias metafísicas do Livro do Desassossego»
Às vezes, nos meus diálogos comigo
|
mundo mesmo
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
A maioria dos homens
A miséria da minha condição
A persistência instintiva da vida
A vida, para a maioria dos homens
A vulgaridade é um lar
Antes que o estio cesse e chegue o outono
Aquilo que, creio, produz em mim
Assim como, quer o saibamos quer não
Cada vez que o meu propósito se ergueu
Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender
Coisas de nada, naturais da vida
Como Diógenes a Alexandre
Comparados com os homens simples e autênticos
Depois dos dias todos de chuva
Depois que as últimas chuvas deixaram o céu
Desde que possamos considerar este mundo
Desde que, conforme posso
Doem-me a cabeça e o universo
E para ti, ó Morte
ENCOLHER DE OMBROS
Enrolar o mundo à roda dos nossos dedos
Entrei no barbeiro no modo do costume
Eu não possuo o meu corpo
Ficções do interlúdio
Há dias em que cada pessoa que encontro
Há uma erudição do conhecimento
MARCHA FÚNEBRE [Que faz cada um]
Meditei hoje, num intervalo de sentir
Minha alma é uma orquestra oculta
Ninguém ainda definiu
Nunca amamos alguém
Não fizeram, Senhor, as vossas naus
Não se subordinar a nada
Não são as paredes reles do meu quarto vulgar
Não tendo que fazer, nem que pensar em fazer
Não toquemos na vida nem com as pontas dos dedos
O dinheiro é belo, porque é uma libertação
O meu conhecimento com Vicente Guedes
O povo é bom tipo
O que há de mais reles nos sonhos
O que tenho sobretudo é cansaço
O sócio capitalista aqui da firma
Os sentimentos que mais doem
Penso às vezes com um agrado
Por mais que pertença, por alma
Quando outra virtude não haja em mim
Quantas coisas, que temos por certas ou justas
Quanto mais alto o homem
Reconhecer a realidade como uma forma da ilusão
Se alguma coisa há que esta vida tem
Sempre me tem preocupado
Sinto-me às vezes tocado
Tenho a náusea física da humanidade vulgar
Tenho mais pena dos que sonham o provável
Teorias metafísicas que possam dar-nos
Tive sempre uma repugnância
Todo o dia, em toda a sua desolação
Todos os movimentos da sensibilidade
Tudo quanto de desagradável nos sucede na vida
UM DIA
Uma vista breve de campo
Vejo as paisagens sonhadas
Vi e ouvi ontem um grande homem
Viajar? Para viajar basta existir
Às vezes, sem que o espere
|
nuvens azul
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
... no desalinho triste das minhas emoções
A Coroada de Rosas
A história nega as coisas certas
A loucura chamada afirmar
A metafísica pareceu-me sempre
Alastra ante meus olhos saudosos
Antes que o estio cesse e chegue o outono
Atingir, no estado místico
Atrás dos primeiros menos-calores do estio
Caminhávamos, juntos e separados
Cheguei hoje, de repente
Cristo é uma forma da emoção
Depois que o fim dos astros esbranqueceu
Depois que os últimos calores do estio
Depois que os últimos pingos da chuva
Desde o princípio baço do dia quente
Foi-se hoje embora, disseram que definitivamente
Há muito — não sei se há dias, se há meses
Lento, no luar lá fora da noite lenta
Nem se sabe se o que acaba do dia
Ninguém ainda definiu
Ninguém compreende outro
No recôncavo da praia à beira-mar
Nuvens... Hoje tenho consciência do céu
Névoa ou fumo?
O céu do estio prolongado todos os dias
O céu negro ao fundo do sul do Tejo
O poente está espalhado pelas nuvens soltas
O silêncio que sai do som da chuva espalha-se
O vento levantou-se
PERISTILO | Farei do sonhar-te o ser poeta
Que rainha imprecisa guarda ao pé dos seus lagos
Se considero com atenção a vida
Sim, é o poente
Sossego enfim
Todos os dias acontecem no mundo coisas
Tudo se me tornou insuportável
Um azul esbranquiçado de verde nocturno
Um outro tedio, mais morno
Vivo sempre no presente
Às vezes, quando ergo a cabeça
|
qualquer era
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
A ideia de viajar seduz-me
A maioria da gente enferma
A única atitude digna de um homem superior
Acordei hoje muito cedo
CASCATA
Como há quem trabalhe de tédio
Conquistei, palmo a pequeno palmo
Detesto a leitura
ENCOLHER DE OMBROS
Em qualquer espírito
Escrevo com uma estranha mágoa
Fluido, o abandono do dia
No recôncavo da praia à beira-mar
Não conheço prazer como o dos livros
Não sei quantos terão contemplado
Névoa ou fumo?
O homem perfeito do pagão
O meu conhecimento com Vicente Guedes
O único viajante com verdadeira alma
Passei entre eles estrangeiro
Quando durmo muitos sonhos
Quanto mais alto o homem
Que de Infernos e Purgatórios
Que me pesa que ninguem leia o que escrevo?
TROVOADA
Tenho grandes estagnações
VIAGEM NUNCA FEITA | Foi por um crepúsculo de vago outono
VIAGEM NUNCA FEITA | — Naufrágios? Não, nunca tive nenhum
Viver do sonho e para o sonho
|
realidade idéa
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
A leitura dos jornais
A loucura chamada afirmar
CARTA PARA NÃO MANDAR
Do terraço deste café
Eu não sonho possuir-te
FLORESTA
Ficções do interlúdio
GLORIFICAÇÃO DAS ESTÉREIS
INTERVALO [Esta hora horrorosa]
Mais "pensamentos" | Dia de Natal
Mesmo que eu quisesse criar
MÁXIMAS
NA FLORESTA DO ALHEAMENTO
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | A minha vida é tão triste
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Esplendor do nada, nome do abismo
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Tu és do sexo das formas sonhadas
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Às vezes quando, abatido e humilde
Nas vagas sombras de luz
Nós não podemos amar, filho
O MAJOR
O RIO DA POSSE
O SENSACIONISTA
O céu do estio prolongado todos os dias
O prazer de nos elogiarmos
OMAR KHAYYAM [O tédio de Khayyam]
PERISTILO | Correm rios, rios eternos
PERISTILO | Farei do sonhar-te o ser poeta
Parecerá a muitos que este meu diário
Pensaste já, ó Outra, quão invisíveis somos
Pertenço a uma geração que herdou a descrença
Poder reencarnar numa pedra
Se a nossa vida fosse um eterno estar-à-janela
Ser major reformado parece-me uma coisa ideal
VIA LÁCTEA | ...com meneios de frase
VIAGEM NUNCA FEITA | E assim escondo-me
VIAGEM NUNCA FEITA | — Naufrágios? Não, nunca tive nenhum
Viver do sonho e para o sonho
Vivo sempre no presente
À minha incapacidade de viver
É legítima toda a violação da lei moral
Ó noite onde as estrelas mentem luz
|
rua sei
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
(lunar scene)
... a acuidade dolorosa das minhas sensações
... a hiperacuidade não sei se das sensações
... a tristeza solene que habita em todas as coisas
...a chuva caía ainda triste
A literatura, que é a arte casada com o pensamento
A metafísica pareceu-me sempre
A miséria da minha condição
A oportunidade é como o dinheiro
A tragédia principal da minha vida
A vida é para nós o que concebemos nela
ABSURDO
Acordei hoje muito cedo
Amo, pelas tardes demoradas de verão
Cantava, em uma voz muito suave
Choro sobre as minhas páginas imperfeitas
Coisas de nada, naturais da vida
Depois de uma noite mal dormida
Depois dos dias todos de chuva
Depois que as últimas chuvas deixaram o céu
Descobri que penso sempre
Entrei no barbeiro no modo do costume
Espaçado, o pestanejar azul branco
Estou quase convencido de que nunca estou desperto
Floresce alto na solidão nocturna
Gostaria de estar no campo
Há momentos em que tudo cansa
Há muito — não sei se há dias, se há meses
Há mágoas íntimas que não sabemos distinguir
INTERVALO DOLOROSO [Coisa arrojada]
Já me cansa a rua
Mais que uma vez, ao passear lentamente
Na minha alma ignóbil e profunda registo
Nos primeiros dias do outono subitamente entrado
Não creio alto na felicidade dos
animais
Não sei o que é o tempo
Não sei porquê — noto-o subitamente
Não são as paredes reles do meu quarto vulgar
Não é nos largos campos ou nos jardins
O céu do estio prolongado todos os dias
O lema que hoje mais requeiro para definição
O mundo exterior existe
O olfacto é uma vista estranha
O patrão Vasques
O poente está espalhado pelas nuvens soltas
O relógio que está lá para trás
Onde está Deus, mesmo que não exista?
Os sentimentos que mais doem
Ouviu-me ler os meus versos
PROSA DE FÉRIAS
Paira-me à superfície do cansaço
Para compreender, destruí-me
Parecerá a muitos que este meu diário
Pedi tão pouco à vida
Penso às vezes que nunca sairei
Quando vim primeiro para Lisboa
Quando vivemos constantemente no abstracto
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade
Quem tenha lido as páginas deste livro
Sobra silêncio escuro lividamente
Sou curioso de todos, ávido de tudo
Tenho assistido, incógnito
Tenho diante de mim as duas páginas
Todo o homem de hoje
Tudo quanto não é a minha alma é para mim
Uma só coisa me maravilha mais do que a estupidez
Viver uma vida desapaixonada e culta
|
sei mesmo
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
"De que é que você se está a rir?"
(cópia duma carta para Pretória) | Eu tenho passado bem de saúde
... a hiperacuidade não sei se das sensações
...exprimir ao microscópio
A Adolfo Casais Monteiro, em 13 de Janeiro de 1935
A Armando Cortes-Rodrigues, em 19 de Novembro de 1914
A Armando Cortes-Rodrigues, em 4 de Outubro de 1914
A João Gaspar Simões, em 28 de Julho de 1932
A João de Lebre e Lima, em 3 de Maio de 1914
A mais vil de todas as necessidades
A procura da verdade
A vida é para nós o que concebemos nela
As frases que nunca escreverei
Cada vez que viajo, viajo imenso
Com que luxúria ☐ transcendente eu
De repente, como se um destino
Devaneio entre Cascais e Lisboa
Disse Amiel que uma paisagem é um estado da alma
Do Prefácio às FICÇÕES DO INTERLÚDIO | Nestes desdobramentos de personalidade
E assim sou, fútil e sensível
Estou quase convencido de que nunca estou desperto
Fazer uma obra e reconhecê-la
Junta as mãos, põe-as entre as minhas
Na perfeição nítida do dia
Nota para as edições próprias
Não sei porquê — noto-o subitamente
O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança
PREFÁCIO
Para compreender, destruí-me
Por entre a casaria, em intercalações de luz e sombra
Quando vivemos constantemente no abstracto
Quanto mais alta a sensibilidade
Releio passivamente, recebendo o que sinto
Remoinhos, redemoinhos, na futilidade fluida
Um hálito de música ou de sonho
|
ser luz
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
... E eu, que odeio a vida com timidez
... este livro suave
..., barcos que passam na noite
A doçura de não ter família nem companhia
A ideia de viajar nauseia-me
A sensação de convalescença
A vida pode ser sentida como uma náusea
A vida prática sempre me pareceu
Acordei hoje muito cedo
Amo, pelas tardes demoradas de verão
As carroças da rua ronronam
Atrás dos primeiros menos-calores do estio
Caminhávamos, juntos e separados
Com que luxúria ☐ transcendente eu
Como nos dias em que trovoada se prepara
Como uma esperança negra
Comparados com os homens simples e autênticos
Criei para mim, fausto de um opróbrio
Depois de uma noite mal dormida
Depois que as últimas chuvas deixaram o céu
Depois que o fim dos astros esbranqueceu
Desde antes de manhã cedo
Desde o princípio baço do dia quente
Doem-me a cabeça e o universo
ENCOLHER DE OMBROS
Em baixo, afastando-se do alto
Esse lugar activo de sensações
FLORESTA
Fluido, o abandono do dia
Há mágoas íntimas que não sabemos distinguir
Há quanto tempo não escrevo!
INTERVALO DOLOROSO [Como alguém cujos olhos]
Invejo a todas as pessoas o não serem eu
MARCHA FÚNEBRE [Figuras heriáticas, de hierarquias ignotas]
Mas a exclusão, que me impus
Nem se sabe se o que acaba do dia
No nevoeiro leve da manhã de meia-primavera
Nos primeiros dias do outono subitamente entrado
Não sei quantos terão contemplado
O meu conhecimento com Vicente Guedes
Passei entre eles estrangeiro
Quando o estio entra entristeço
Quando vim primeiro para Lisboa
Senti-me inquieto já
TROVOADA
Um azul esbranquiçado de verde nocturno
Uma das minhas preocupações constantes
Vejo as paisagens sonhadas
[PAISAGEM DE] CHUVA [E, por fim — vejo-o]
|
ser ter
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
(Chapter on Indifference or something like that)
... O pasmo que me causa a minha capacidade
... e do alto da majestade de todos os sonhos
... e tudo é uma doença incurável
A Coroada de Rosas
A inacção consola de tudo
A literatura, que é a arte casada com o pensamento
A quem, embora em sonho,
Aquela divina e ilustre timidez
Atingir, no estado místico
Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender
Cheguei hoje, de repente
Colaborar, ligar-se, agir
DECLARAÇÃO DE DIFERENÇA
DIÁRIO LÚCIDO
Da minha abstenção de colaborar
Desde o meio do século dezoito
Do Prefácio às FICÇÕES DO INTERLÚDIO | Umas figuras insiro em contos
E os diálogos nos jardins fantásticos
E para ti, ó Morte
Enrolar o mundo à roda dos nossos dedos
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | O desgosto de não encontrar nada
Gostaria de estar no campo
Há criaturas que sofrem realmente
Há um sono da atenção voluntária
Há uma técnica do sonho
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | A minha vida é tão triste
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Tu não és mulher
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Tu és do sexo das formas sonhadas
Nenhum problema tem solução
No alto ermo dos montes naturais
Não o amor, mas os arredores é que vale a pena
O instinto infante da humanidade
O orgulho é a certeza emotiva da grandeza própria
O pensamento pode ter elevação
O peso de sentir!
OMAR KHAYYAM [Omar tinha uma personalidade]
Outra vez encontrei um trecho meu
Paira-me à superfície do cansaço
Passei entre eles estrangeiro
Pertenço a uma geração que herdou a descrença
Por mais que pertença, por alma
Quando, como uma noite de tempestade
Saber não ter ilusões
Se a nossa vida fosse um eterno estar-à-janela
Ser major reformado parece-me uma coisa ideal
Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam
Sou mais velho que o Tempo
Tudo quanto de desagradável nos sucede na vida
UM DIA (zig-zag)
UMA CARTA | Há um vago número
Uma das grandes tragédias da minha vida
Uma opinião é uma grosseria
Viver do sonho e para o sonho
Viver é ser outro.
É nobre ser tímido, ilustre não saber agir
|
sol ella
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
... como uma criança que pára de correr
A leitura dos jornais
A maioria da gente enferma
A maioria dos homens
A oportunidade é como o dinheiro
As coisas mais simples, mais realmente simples
Choro sobre as minhas páginas imperfeitas
Comparados com os homens simples e autênticos
DIÁRIO AO ACASO
Da minha abstenção de colaborar
Depois que as últimas chuvas passaram
Deus criou-me para criança
Durei horas incógnitas
E para ti, ó Morte
Em mim todas as afeições se passam à superfície
Espaçado, o pestanejar azul branco
Há criaturas que sofrem realmente
Há uma técnica do sonho
LENDA IMPERIAL
LITANIA
MARCHA FÚNEBRE PARA O REI LUÍS SEGUNDO DA BAVIERA | Hoje, mais demorada do que nunca
Ninguém compreende outro
Não é nos largos campos ou nos jardins
O AMANTE VISUAL | Anteros
O ambiente é a alma das coisas
O campo é onde não estamos
O gládio de um relâmpago frouxo
Onde está Deus, mesmo que não exista?
PASTORAL DE PEDRO
PERISTILO | Correm rios, rios eternos
Parecerá a muitos que este meu diário
Pensaste já, ó Outra, quão invisíveis somos
Podemos morrer se apenas amámos
Por mais que pertença, por alma
Que rainha imprecisa guarda ao pé dos seus lagos
Reconheço, não sei se com tristeza
Regra é da vida que podemos
Releio passivamente, recebendo o que sinto
SINFONIA DA NOITE INQUIETA
Sossego enfim
Três dias seguidos de calor sem calma
Tudo se me tornou insuportável
Um azul esbranquiçado de verde nocturno
À parte aqueles sonhos vulgares
|
somno vida
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos
A doçura de não ter família nem companhia
A mais vil de todas as necessidades
A tragédia principal da minha vida
A única maneira de teres sensações novas
CENOTÁFIO
Colaborar, ligar-se, agir
Criei para mim, fausto de um opróbrio
Depois de uma noite mal dormida
Desejaria construir um código de inércia
E os diálogos nos jardins fantásticos
ESTÉTICA DA ABDICAÇÃO
Eu não sonho possuir-te
FLORESTA
Há dias em que cada pessoa que encontro
Há momentos em que tudo cansa
INTERVALO DOLOROSO [Nem no orgulho tenho consolação]
INTERVALO DOLOROSO [Se me perguntardes]
INTERVALO DOLOROSO [Sonhar, para quê?]
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Rezo a ti o meu amor
Na minha alma ignóbil e profunda registo
Nuvens... Hoje tenho consciência do céu
Não me encontro um sentido
Não me indigno, porque a indignação
O AMANTE VISUAL | Anteros
O homem não deve poder ver a sua própria cara
Ouviu-me ler os meus versos
Quando o estio entra entristeço
Quanto mais avançamos na vida
Repudiei sempre que me compreendessem
SENTIMENTO APOCALÍPTICO
Saber que será má a obra
Sempre me tem preocupado
Sinto-me às vezes tocado
Todo esforço, qualquer que seja
Tudo ali é quebrado, anónimo e impertencente
Tudo quanto não é a minha alma é para mim
|
sonho sonhar
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
... este livro suave
A SOCIEDADE EM QUE EU VIVO
A arte é um esquivar-se a agir
A literatura, que é a arte casada com o pensamento
A quem, embora em sonho,
A vulgaridade é um lar
A única atitude digna de um homem superior
Adoramos a perfeição, porque a não podemos ter
Alguns têm na vida um grande sonho
Aquela malícia incerta e quase imponderável
Cheguei hoje, de repente
Considerar a nossa maior angústia
Criar dentro de mim um Estado
De resto eu não sonho, eu não vivo
Depois que as últimas chuvas deixaram o céu
Desde que possamos considerar este mundo
Disse Amiel que uma paisagem é um estado da alma
ESTÉTICA DO ARTIFÍCIO
ESTÉTICA DO DESALENTO [Já que não podemos extrair]
Estou quase convencido de que nunca estou desperto
Eu não sonho possuir-te
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | O meu hábito vital da descrença
GLORIFICAÇÃO DAS ESTÉREIS
Gostaria de estar no campo
Há quanto tempo não escrevo!
INTERVALO DOLOROSO [Como alguém cujos olhos]
INTERVALO DOLOROSO [Se me perguntardes]
INTERVALO DOLOROSO [Sonhar, para quê?]
LAGOA DA POSSE | A posse é para meu pensar uma lagoa absurda
Ler é sonhar pela mão de outrem
MANEIRA DE BEM SONHAR NOS METAFÍSICOS
MANEIRA DE BEM SONHAR | Cuidarás primeiro
Na perfeição nítida do dia
Nuvens... Hoje tenho consciência do céu
Não creio alto na felicidade dos
animais
Não sei que vaga carícia
O céu do estio prolongado todos os dias
O instinto infante da humanidade
O prazer de nos elogiarmos
O sonho é a pior das drogas
Os classificadores de coisas
Penso às vezes, com um deleite triste
Quando durmo muitos sonhos
Que rainha imprecisa guarda ao pé dos seus lagos
Se eu tivesse escrito o Rei Lear
Sim, é o poente
Sou mais velho que o Tempo
Tenho que escolher o que detesto
Todo o pensamento
Uma vista breve de campo
VIA LÁCTEA | Em mim o que há de primordial
VIAGEM NUNCA FEITA | Não desembarcar não tem cais
Viver do sonho e para o sonho
Viver é ser outro.
Vivo sempre no presente
É nobre ser tímido, ilustre não saber agir
|
sonho sonhos
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
(cópia duma carta para Pretória) | Eu tenho passado bem de saúde
... E eu, que odeio a vida com timidez
A João de Lebre e Lima, em 3 de Maio de 1914
A experiência directa é o subterfúgio
A ideia de viajar seduz-me
A liberdade é a possibilidade do isolamento
A tragédia principal da minha vida
A vida prática sempre me pareceu
As frases que nunca escreverei
Busco-me e não me encontro
Cada vez que o meu propósito se ergueu
Cada vez que viajo, viajo imenso
Cheguei àquele ponto em que o tédio
Cultivo o ódio à acção como uma flor de estufa
DIÁRIO LÚCIDO
Devaneio entre Cascais e Lisboa
ESTÉTICA DO DESALENTO [Publicar-se — socialização de si próprio]
EXAME DE CONSCIÊNCIA
Encaro serenamente
Ergo-me da cadeira com um esforço monstruoso
Eu nunca fiz senão sonhar
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | Do estudo da metafísica
Há um grande cansaço na alma do meu coração
INTERVALO DOLOROSO [Coisa arrojada]
INTERVALO DOLOROSO [Como alguém cujos olhos]
INTERVALO DOLOROSO [Nem no orgulho tenho consolação]
INTERVALO DOLOROSO [Se me perguntardes]
INTERVALO [Antefalhei a vida]
MANEIRA DE BEM SONHAR NOS METAFÍSICOS
MANEIRA DE BEM SONHAR | Cuidarás primeiro
Muitas vezes para me entreter
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Às vezes quando, abatido e humilde
Não me indigno, porque a indignação
O AMANTE VISUAL | Nem em torno dessas figuras
O MAJOR
O próprio sonho me castiga
Para sentir a delícia e o terror da velocidade
Primeiro é um som que faz um outro som
Reconheço hoje que falhei
Reparando às vezes no trabalho literário
Sabendo como as coisas mais pequenas
Ser major reformado parece-me uma coisa ideal
Sinto o tempo com uma dor enorme
Tenho por intuição que para as criaturas como eu
VIAGEM NUNCA FEITA | — Naufrágios? Não, nunca tive nenhum
Vejo as paisagens sonhadas
À parte aqueles sonhos vulgares
|
sou pensar
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
... a hiperacuidade não sei se das sensações
A arte consiste em fazer os outros sentir
A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos
A mais vil de todas as necessidades
A procura da verdade
Aquela divina e ilustre timidez
Aquilo que, creio, produz em mim
Assim organizar a nossa vida
CARTA PARA NÃO MANDAR
CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Livrai-vos sobretudo de cultivar
CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Minhas queridas discípulas
Chove muito, mais, sempre mais
Desde antes de manhã cedo
E assim sou, fútil e sensível
ESTÉTICA DO ARTIFÍCIO
ESTÉTICA DO DESALENTO [Já que não podemos extrair]
Em qualquer espírito
Em todos os lugares da vida
Estou quase convencido de que nunca estou desperto
Há criaturas que sofrem realmente
Há um grande cansaço na alma do meu coração
Junta as mãos, põe-as entre as minhas
Mesmo que eu quisesse criar
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | E se acaso falo com alguém
Ninguém compreende outro
Não tendo que fazer, nem que pensar em fazer
Não toquemos na vida nem com as pontas dos dedos
O ambiente é a alma das coisas
O dinheiro é belo, porque é uma libertação
O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida
O isolamento talhou-me à sua imagem e semelhança
O peso de sentir!
O sonho é a pior das drogas
Onde está Deus, mesmo que não exista?
Ouviu-me ler os meus versos
Para sentir a delícia e o terror da velocidade
Por mais que pertença, por alma
Prefiro a prosa ao verso
Quando, como uma noite de tempestade
Que de Infernos e Purgatórios
Quem tenha lido as páginas deste livro
Se a nossa vida fosse um eterno estar-à-janela
Se considero com atenção a vida
Se houvesse na arte o mister de aperfeiçoador
Sou curioso de todos, ávido de tudo
Suponho que seja o que chamam um
decadente
Tenho assistido, incógnito
Tenho grandes estagnações
Ter já lido os Pickwick Papers
Todo o pensamento
Tão dado como sou ao tédio
UMA CARTA | Há um vago número
Um quietismo estético da vida
Uma das minhas preocupações constantes
|
sou tenho
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
(lunar scene)
... a tristeza solene que habita em todas as coisas
A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos
A leve embriaguez da febre ligeira
A liberdade é a possibilidade do isolamento
A sensação de convalescença
A vulgaridade é um lar
Acontece-me às vezes, e sempre que acontece
Alastra ante meus olhos saudosos
Assim como, quer o saibamos quer não
CARTA PARA NÃO MANDAR
Como há quem trabalhe de tédio
Considerar todas as coisas
De repente, como se um destino
Depois dos dias todos de chuva
Descobri que penso sempre
Em mim todas as afeições se passam à superfície
Em todos os lugares da vida
Escravo do temperamento
Escrevo com uma estranha mágoa
Fluido, o abandono do dia
Foi-se hoje embora, disseram que definitivamente
Há muito tempo que não escrevo
Há muito — não sei se há dias, se há meses
Há quanto tempo não escrevo!
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Às vezes quando, abatido e humilde
Nada me pesa tanto no desgosto
Nada pesa tanto como o afecto alheio
Nasci em um tempo
No alto ermo dos montes naturais
Não creio alto na felicidade dos
animais
Não se subordinar a nada
Não sei que vaga carícia
O entusiasmo é uma grosseria
O meu conhecimento com Vicente Guedes
O poente está espalhado pelas nuvens soltas
O próprio sonho me castiga
O silêncio que sai do som da chuva espalha-se
O único viajante com verdadeira alma
OMAR KHAYYAM [Omar tinha uma personalidade]
Para compreender, destruí-me
Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa
Pedi tão pouco à vida
Quantas vezes, presa da superfície e do bruxedo
Quanto mais contemplo o espectáculo do mundo
Reconheço, não sei se com tristeza
Releio lúcido, demoradamente
Releio passivamente, recebendo o que sinto
Se houvesse na arte o mister de aperfeiçoador
São horas talvez de eu fazer
Só uma vez fui verdadeiramente amado
Tendo visto com que lucidez
Tenho assistido, incógnito
Tenho sido sempre um sonhador irónico
Toda a vida da alma humana é um movimento
Todo esforço, qualquer que seja
Todo o pensamento
Tudo se me evapora
UMA CARTA | Eu não saberia
Uma das minhas preocupações constantes
|
tedio pena
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
... O pasmo que me causa a minha capacidade
... e tudo é uma doença incurável
... e um profundo e tediento desdém
Antes que o estio cesse e chegue o outono
CASCATA
CONSELHOS ÀS MALCASADAS | Livrai-vos sobretudo de cultivar
Com que luxúria ☐ transcendente eu
Como Diógenes a Alexandre
De suave e aérea a hora era uma ara onde orar
Descobri que penso sempre
Deus criou-me para criança
Dizem que o tédio é uma doença de inertes
Há mágoas íntimas que não sabemos distinguir
INTERVALO DOLOROSO [Coisa arrojada]
INTERVALO DOLOROSO [Nem no orgulho tenho consolação]
INTERVALO DOLOROSO [Tudo me cansa]
Ler é sonhar pela mão de outrem
Luís II — end of 2 | ... e baixada a ponte levadiça
MANEIRA DE BEM SONHAR | Adia tudo
Muitas vezes para me entreter
Nenhum problema tem solução
Nenhuma ideia brilhante consegue entrar
Ninguém ainda definiu
Não me indigno, porque a indignação
Não toquemos na vida nem com as pontas dos dedos
O dinheiro é belo, porque é uma libertação
Quando nasceu a geração, a que pertenço
Quando vivemos constantemente no abstracto
Quanto mais alta a sensibilidade
Reparando às vezes no trabalho literário
SINFONIA DE UMA NOITE INQUIETA
Saber que será má a obra
Trazei vós o pálio de ouro e morte
Tão dado como sou ao tédio
UM DIA
Viver uma vida desapaixonada e culta
É nobre ser tímido, ilustre não saber agir
|
tenho rua
|
António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
|
"De que é que você se está a rir?"
... como uma criança que pára de correr
... reles como os fins da vida que vivemos
A Armando Cortes-Rodrigues, em 19 de Novembro de 1914
A leve embriaguez da febre ligeira
A vida pode ser sentida como uma náusea
A vida é para nós o que concebemos nela
A vida é uma viagem experimental
Amo, pelas tardes demoradas de verão
As carroças da rua ronronam
As coisas sonhadas só têm o lado de cá
Cada vez que o meu propósito se ergueu
Como uma esperança negra
Conheço, translata, a sensação de ter comido
Depois de uma noite mal dormida
Depois que as últimas chuvas passaram
Depois que o calor cessou
Depois que os últimos pingos da chuva
Desde o princípio baço do dia quente
Doem-me a cabeça e o universo
E, hoje, pensando no que tem sido a minha vida
Encaro serenamente
Enrolar o mundo à roda dos nossos dedos
Escrevo com uma estranha mágoa
Floresce alto na solidão nocturna
Há momentos em que tudo cansa
Há muito tempo que não escrevo
Há mágoas íntimas que não sabemos distinguir
Há sensações que são sonos
Há sossegos do campo na cidade
Há um sono da atenção voluntária
Já me cansa a rua
Lento, no luar lá fora da noite lenta
MILÍMETROS
Na grande claridade do dia
Na minha alma ignóbil e profunda registo
Na perfeição nítida do dia
Nesta era metálica dos bárbaros
Nos primeiros dias do outono subitamente entrado
Nunca durmo: vivo e sonho
Não sei o que é o tempo
Não sei porquê — noto-o subitamente
Não sei quantos terão contemplado
O calor, como uma roupa invisível
O céu negro ao fundo do sul do Tejo
O olfacto é uma vista estranha
O que há de mais reles nos sonhos
O relógio que está lá para trás
O silêncio que sai do som da chuva espalha-se
Onde está Deus, mesmo que não exista?
Os classificadores de coisas
Paisagens inúteis como aquelas que dão a volta
Quando durmo muitos sonhos
Quando o estio entra entristeço
Quantas vezes, presa da superfície e do bruxedo
Quem quisesse fazer um catálogo de monstros
Quem sou eu para mim?
Releio, em uma destas sonolências sem sono
Sabendo como as coisas mais pequenas
Saber que será má a obra
Surge dos lados do oriente
Tenho mais pena dos que sonham o provável
Três dias seguidos de calor sem calma
Tudo se me tornou insuportável
Tão dado como sou ao tédio
UM DIA (zig-zag)
[PAISAGEM DE] CHUVA [E, por fim — vejo-o]
Às vezes, sem que o espere
É uma oleografia sem remédio
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the and
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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...exprimir ao microscópio
A metafísica pareceu-me sempre
APOTEOSE DO ABSURDO
As coisas modernas são
Com um charuto caro
Da minha abstenção de colaborar
Escravo do temperamento
Há um sono da atenção voluntária
Não o amor, mas os arredores é que vale a pena
Não sei o que é o tempo
O meu conhecimento com Vicente Guedes
O mundo exterior existe
O povo é bom tipo
O ter tocado nos pés de Cristo
Outra vez encontrei um trecho meu
PREFÁCIO
Pensar, ainda assim, é agir
Quando vim primeiro para Lisboa
Regra é da vida que podemos
Ter já lido os Pickwick Papers
Tornar puramente literária a receptividade
Tudo se me evapora
Várias vezes, no decurso da minha vida
Às vezes, nos meus diálogos comigo
Às vezes, sem que o espere
É a última morte do Capitão Nemo
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verdade mesma
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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... a hiperacuidade não sei se das sensações
A DIVINA INVEJA
A persistência instintiva da vida
A vida, para a maioria dos homens
As coisas sonhadas só têm o lado de cá
Cansamo-nos de tudo, excepto de compreender
Colaborar, ligar-se, agir
Desde que, conforme posso
Desejaria construir um código de inércia
Deus criou-me para criança
Do Prefácio às FICÇÕES DO INTERLÚDIO | Nestes desdobramentos de personalidade
Em qualquer espírito
Escravo do temperamento
Escrever é esquecer
Eu não sonho possuir-te
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | Primeiro entretiveram-me
Haja ou não deuses
Há um cansaço da inteligência abstracta
Luís II — end of 2 | ... e baixada a ponte levadiça
MANEIRA DE BEM SONHAR NOS METAFÍSICOS
Mais que uma vez, ao passear lentamente
Meditei hoje, num intervalo de sentir
Mesmo que eu quisesse criar
Muitas vezes para me entreter
MÁXIMAS
Nada me pesa tanto no desgosto
Nenhum prémio certo tem a virtude
Nenhuma ideia brilhante consegue entrar
Nesta era metálica dos bárbaros
Não compreendo senão como uma espécie de falta
Não se subordinar a nada
O AMANTE VISUAL | Anteros
O AMANTE VISUAL | Nem em torno dessas figuras
O SENSACIONISTA
O entusiasmo é uma grosseria
O orgulho é a certeza emotiva da grandeza própria
O próprio escrever perdeu a doçura para mim
OMAR KHAYYAM [O tédio de Khayyam]
OMAR KHAYYAM [Omar tinha uma personalidade]
Os sentimentos que mais doem
Para compreender, destruí-me
Penso às vezes que nunca sairei
Prefiro a prosa ao verso
Quedar-nos-emos indiferentes à verdade
Reconhecer a realidade como uma forma da ilusão
Regra é da vida que podemos
Se alguma coisa há que esta vida tem
Somos morte. Isto, que consideramos vida
Só uma vez fui verdadeiramente amado
Tenho por intuição que para as criaturas como eu
Toda a vida da alma humana é um movimento
Todo esforço, qualquer que seja
Todos os movimentos da sensibilidade
Tudo quanto de desagradável nos sucede na vida
Uma das grandes tragédias da minha vida
VIAGEM NUNCA FEITA | Não desembarcar não tem cais
Viajar? Para viajar basta existir
Várias vezes, no decurso da minha vida
«Ideias metafísicas do Livro do Desassossego»
Às vezes, quando ergo a cabeça
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vida arte
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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...o mundo, monturo de forças instintivas
A alma humana é vítima
A arte consiste em fazer os outros sentir
A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos
A arte é um esquivar-se a agir
A fé é o instinto da acção
A habilidade em construir sonhos complexos
A reductio ad absurdum é
Adoramos a perfeição, porque a não podemos ter
Aquela divina e ilustre timidez
As coisas mais simples, mais realmente simples
Choro sobre as minhas páginas imperfeitas
Desde o meio do século dezoito
Duas vezes, naquela minha adolescência
EDUCAÇÃO SENTIMENTAL
ESTÉTICA DA ABDICAÇÃO
Em baixo, afastando-se do alto
Escravo do temperamento
Fazer uma obra e reconhecê-la
INTERVALO [Antefalhei a vida]
MANEIRA DE BEM SONHAR | Adia tudo
MANEIRA DE BEM SONHAR | Cuidarás primeiro
Mesmo que eu quisesse criar
Meus sonhos: Como me crio
Nunca amamos alguém
O AMANTE VISUAL | Nem em torno dessas figuras
O governo do mundo começa em nós mesmos
O homem perfeito do pagão
O mundo é de quem não sente
O povo é bom tipo
OMAR KHAYYAM [O tédio de Khayyam]
Onde está Deus, mesmo que não exista?
Perder tempo comporta uma estética
Quanto mais alta a sensibilidade
Quanto mais contemplo o espectáculo do mundo
Se eu tivesse escrito o Rei Lear
Sinto o tempo com uma dor enorme
Tenho assistido, incógnito
Tenho por intuição que para as criaturas como eu
Tenho que escolher o que detesto
Tudo quanto é acção, seja a guerra ou o raciocínio
Um quietismo estético da vida
Visto que talvez nem tudo seja falso
É a última morte do Capitão Nemo
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vida era
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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... O pasmo que me causa a minha capacidade
... a acuidade dolorosa das minhas sensações
A ESTALAGEM DA RAZÃO
A leve embriaguez da febre ligeira
CENOTÁFIO
Como Diógenes a Alexandre
De repente, como se um destino
Depois que o calor cessou
Durei horas incógnitas
E para ti, ó Morte
Em mim foi sempre menor a intensidade
Em qualquer espírito
Há quanto tempo não escrevo!
Há sossegos do campo na cidade
Nasci em um tempo
No nevoeiro leve da manhã de meia-primavera
Nunca durmo: vivo e sonho
Não creio alto na felicidade dos
animais
Não sei quantos terão contemplado
Não sei que vaga carícia
O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida
PASTORAL DE PEDRO
PREFÁCIO
Passávamos, jovens ainda, sob as árvores
altas
Pertenço a uma geração que herdou a descrença
Por entre a casaria, em intercalações de luz e sombra
Quando nasceu a geração, a que pertenço
Quando, como uma noite de tempestade
Reconheço, não sei se com tristeza
Sinto o tempo com uma dor enorme
Teorias metafísicas que possam dar-nos
Todos aqueles acasos infelizes da nossa vida
Trazei vós o pálio de ouro e morte
Três dias seguidos de calor sem calma
Tudo ali é quebrado, anónimo e impertencente
Tudo quanto não é a minha alma é para mim
Tudo é absurdo
Várias vezes, no decurso da minha vida
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vida morte
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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(Chapter on Indifference or something like that)
A alma humana é vítima
A arte livra-nos ilusoriamente da sordidez de sermos
A história nega as coisas certas
A procura da verdade
ABSURDO
Assim como, quer o saibamos quer não
Conquistei, palmo a pequeno palmo
DECLARAÇÃO DE DIFERENÇA
ESTÉTICA DO DESALENTO [Publicar-se — socialização de si próprio]
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | O desgosto de não encontrar nada
LAGOA DA POSSE | A posse é para meu pensar uma lagoa absurda
MARCHA FÚNEBRE PARA O REI LUÍS SEGUNDO DA BAVIERA | Hoje, mais demorada do que nunca
MARCHA FÚNEBRE [Figuras heriáticas, de hierarquias ignotas]
MARCHA FÚNEBRE [Que faz cada um]
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Rezo a ti o meu amor
No que somos e no que queremos
Não se subordinar a nada
O entusiasmo é uma grosseria
O lema que hoje mais requeiro para definição
Penso às vezes que nunca sairei
Pertenço a uma geração que herdou a descrença
Quando nasceu a geração, a que pertenço
Quantas vezes, no decurso dos mundos
Quanto mais contemplo o espectáculo do mundo
Que rainha imprecisa guarda ao pé dos seus lagos
Regra é da vida que podemos
Reparando às vezes no trabalho literário
Repudiei sempre que me compreendessem
Sinto-me às vezes tocado
Somos morte. Isto, que consideramos vida
Todos aqueles acasos infelizes da nossa vida
Tudo se me tornou insuportável
É legítima toda a violação da lei moral
É nobre ser tímido, ilustre não saber agir
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vida ser
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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"De que é que você se está a rir?"
... E eu, que odeio a vida com timidez
... e do alto da majestade de todos os sonhos
...o mundo, monturo de forças instintivas
A experiência directa é o subterfúgio
A ideia de viajar nauseia-me
A maioria da gente enferma
A maioria dos homens
A oportunidade é como o dinheiro
A sensação de convalescença
A vida pode ser sentida como uma náusea
A vida, para a maioria dos homens
Adoramos a perfeição, porque a não podemos ter
As coisas mais simples, mais realmente simples
CARTA PARA NÃO MANDAR
Como todo o indivíduo de grande mobilidade
Considerar todas as coisas
Desde que possamos considerar este mundo
Do terraço deste café
Dois, três dias de semelhança
ENCOLHER DE OMBROS
Escrever é esquecer
Estou num dia em que me pesa
Foi-se hoje embora, disseram que definitivamente
Há sensações que são sonos
Há um sono da atenção voluntária
Há uma erudição do conhecimento
Irrita-me a felicidade de todos estes homens
Já me cansa a rua
Ler é sonhar pela mão de outrem
Mais "pensamentos" | Dia de Natal
Na minha alma ignóbil e profunda registo
Nada pesa tanto como o afecto alheio
Nunca amamos alguém
Não sei porquê — noto-o subitamente
Não são as paredes reles do meu quarto vulgar
O campo é onde não estamos
O dinheiro, as crianças, os doidos
O patrão Vasques
O que tenho sobretudo é cansaço
O sonho é a pior das drogas
PROSA DE FÉRIAS
Quando outra virtude não haja em mim
Quanto mais alta a sensibilidade
Quanto mais avançamos na vida
Que me pesa que ninguem leia o que escrevo?
Quem quisesse fazer um catálogo de monstros
Reconhecer a realidade como uma forma da ilusão
Releio passivamente, recebendo o que sinto
Se considero com atenção a vida
Só uma vez fui verdadeiramente amado
Todos os dias acontecem no mundo coisas
Tornar puramente literária a receptividade
Tudo quanto de desagradável nos sucede na vida
UM DIA
VIAGEM NUNCA FEITA | Não desembarcar não tem cais
Viver uma vida desapaixonada e culta
Vivo sempre no presente
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vida sonho
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
|
"De que é que você se está a rir?"
A vulgaridade é um lar
Alguns têm na vida um grande sonho
Busco-me e não me encontro
CARTA
Como todo o indivíduo de grande mobilidade
Criar dentro de mim um Estado
De suave e aérea a hora era uma ara onde orar
Descobri que penso sempre
EXAME DE CONSCIÊNCIA
Eu nunca fiz senão sonhar
Gosto de dizer
Há sossegos do campo na cidade
INTERVALO DOLOROSO [Tudo me cansa]
MANEIRA DE BEM SONHAR | Com este sonhar tanto
MARCHA FÚNEBRE PARA O REI LUÍS SEGUNDO DA BAVIERA | Hoje, mais demorada do que nunca
MARCHA FÚNEBRE [Figuras heriáticas, de hierarquias ignotas]
Não fizeram, Senhor, as vossas naus
Não tendo que fazer, nem que pensar em fazer
O RIO DA POSSE
O poente está espalhado pelas nuvens soltas
Passei entre eles estrangeiro
Que rainha imprecisa guarda ao pé dos seus lagos
Quem tenha lido as páginas deste livro
Reconheço, não sei se com tristeza
Remoinhos, redemoinhos, na futilidade fluida
Sou mais velho que o Tempo
Tenho mais pena dos que sonham o provável
Tenho sido sempre um sonhador irónico
Todo o pensamento
Tudo se me evapora
VIAGEM NUNCA FEITA | E assim escondo-me
Viver é ser outro.
À minha incapacidade de viver
É uma oleografia sem remédio
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vida ter
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António Rito Silva (ars)
|
Edição RZ
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... no desalinho triste das minhas emoções
...e os lírios nas margens de rios remotos
...o mundo, monturo de forças instintivas
A DIVINA INVEJA
A ideia de viajar seduz-me
A inacção consola de tudo
A manhã, meio fria, meio morna
A sensação de convalescença
A vida é para nós o que concebemos nela
A única maneira de teres sensações novas
APOTEOSE DO ABSURDO
CARTA
Chove muito, mais, sempre mais
Conheço, translata, a sensação de ter comido
Depois que as últimas chuvas deixaram o céu
Do terraço deste café
Duas vezes, naquela minha adolescência
E para ti, ó Morte
E, hoje, pensando no que tem sido a minha vida
ESTÉTICA DA INDIFERENÇA
ESTÉTICA DO DESALENTO [Já que não podemos extrair]
Eu não possuo o meu corpo
Há quanto tempo não escrevo!
INTERVALO DOLOROSO [Coisa arrojada]
INTERVALO DOLOROSO [Nem no orgulho tenho consolação]
INTERVALO [Antefalhei a vida]
Invejo — mas não sei se invejo —
Minha alma é uma orquestra oculta
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | A minha vida é tão triste
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | E se acaso falo com alguém
NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO | Às vezes quando, abatido e humilde
No recôncavo da praia à beira-mar
Nunca durmo: vivo e sonho
Não sei o que é o tempo
Não tendo que fazer, nem que pensar em fazer
O dinheiro é belo, porque é uma libertação
O lema que hoje mais requeiro para definição
O relógio que está lá para trás
O silêncio que sai do som da chuva espalha-se
Os sentimentos que mais doem
PAISAGEM DE CHUVA [Em cada pingo]
PAISAGEM DE CHUVA [Toda a noite]
PERISTILO | Farei do sonhar-te o ser poeta
Paisagens inúteis como aquelas que dão a volta
Por fácil que seja, todo o gesto representa
Prouvera aos deuses
Quando criança eu apanhava
Quando o estio entra entristeço
Quanto mais alta a sensibilidade
Que de Infernos e Purgatórios
Reconheço hoje que falhei
Sabendo como as coisas mais pequenas
Sinto-me às vezes tocado
Suponho que seja o que chamam um
decadente
São horas talvez de eu fazer
Tenho a náusea física da humanidade vulgar
Tenho diante de mim as duas páginas
Todos aqueles acasos infelizes da nossa vida
Todos os movimentos da sensibilidade
UM DIA (zig-zag)
VIA LÁCTEA | ...com meneios de frase
VIAGEM NUNCA FEITA | — Naufrágios? Não, nunca tive nenhum
Viver uma vida desapaixonada e culta
|
vida terDUP
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António Rito Silva (ars)
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Edição RZ
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... E eu, que odeio a vida com timidez
... o sagrado instinto de não ter teorias
..., barcos que passam na noite
A literatura, que é a arte casada com o pensamento
A persistência instintiva da vida
Aquela malícia incerta e quase imponderável
As coisas mais simples, mais realmente simples
Assim organizar a nossa vida
Busco-me e não me encontro
Chove muito, mais, sempre mais
DIÁRIO AO ACASO
E assim como sonho, raciocino se quiser
E os diálogos nos jardins fantásticos
EDUCAÇÃO SENTIMENTAL
ESTÉTICA DO ARTIFÍCIO
Em baixo, afastando-se do alto
Entrei no barbeiro no modo do costume
Escrever é esquecer
Espaçado, o pestanejar azul branco
Estou quase convencido de que nunca estou desperto
FRAGMENTOS DE UMA AUTOBIOGRAFIA | Primeiro entretiveram-me
INTERVALO DOLOROSO [Coisa arrojada]
Junta as mãos, põe-as entre as minhas
MANEIRA DE BEM SONHAR | Com este sonhar tanto
Mais "pensamentos" | Dia de Natal
Mas a exclusão, que me impus
Nasci em um tempo
Nota para as edições próprias
O verdadeiro sábio
PREFÁCIO
Penso às vezes com um agrado
Pertenço a uma geração que herdou a descrença
Quando criança eu apanhava
Quando, como uma noite de tempestade
Quantas coisas, que temos por certas ou justas
Se algum dia me suceder que
Sempre me tem preocupado
Tenho por intuição que para as criaturas como eu
Teorias metafísicas que possam dar-nos
Visto que talvez nem tudo seja falso
Várias vezes, no decurso da minha vida
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